O baile de máscaras - parte 4

Nota: Para melhor entendimento leia as primeiras partes antes de ler essa.

"A máscara que oculta a tristeza"

"A euforia e a super excitação são as máscaras da infelicidade."

Bianca Garcia

*

O assunto pelos corredores da escola era o que ocorreu com o professor Albert, apesar do diretor da escola ter tentado fazer de tudo para abafar o caso.

No grupo de amigos de Lyanna não era muito diferente. Na mesa do refeitório, na hora do lanche, todos só falavam disso. Pareciam chocados e algumas meninas até com medo.

-Tipo, um monstro desses bem perto da gente... Chega gelei quando vi! E se tiverem outros como ele?- disse Melissa, que era uma menia pequena, com cabelos loiros que caiam até a cintura. Parecia ser quem ficou mais chocada e assustada. Lyanna não a conhecia muito, ela passou a fazer parte e a andar com o grupinho por causa do namorado.

Peter, o namorado de Melissa, era um dos melhores amigos de Lucas. O menino sempre queria bancar o herói do grupo. Não foi diferente quando Melissa disse que se sentia assustada. O garoto a abraçou e disse:

-Ninguém vai lhe fazer mal enquanto eu estiver por perto, querida. Esse monstro já está preso e se tiverem outros, vão ter que me enfrentar antes de lhe fazer mal.

-Não será um grande desafio- falou Breno que sempre quis ser o engraçado do grupo- Olhe esses músculos!

Peter fez uma cara de raiva, mas só de brincadeirinha e logo se colocou a rir. Melissa, Alyssa, Lucas e a própria Lyanna também riram. Letícia riu, só que de uma forma exagerada. Seu riso acabou sendo mais alto que o dos demais.

-Ah, gente. Não vamos mais falar desse professor. Vamos falar de algo alegre! - falou Letícia com um grande sorriso, ainda um pouco sem ar devido ao seu riso exagerado.

Letícia era a mais alegre e eufórica do grupo. Lyanna não lembra de ter visto a menina triste alguma vez. Ela era alegre até demais. Muitas vezes a alegria dela e os risos eram tão exagerados que acabavam assustando os outros.

-A vida é muito mais que essas coisas ruins! - continuou Letícia com seu sorriso que beirava o exagero.

*

A volta para casa era o momento que Letícia mais detestava. Mas pior que a volta para casa era o momento em que chegava. Dentro do local que era para ser o seu lar, a máscara que ela manteve o dia todo tinha que ser finalmente tirada.

Letícia nunca foi uma menina alegre. O que era uma ironia, já que seu nome significava alegria, segundo o que seu irmão havia lhe dito um dia. Mas desde muito cedo sempre soube fingir ser alegre, fingir muito bem.

Apesar de nunca ter sido alegre, Letícia era relativamente feliz, pelo menos até o fim da infância. Mas depois a tristeza começou a tomar seu coração e a sussurrar em seu ouvido . A voz da tristeza lhe dizia muitas coisas, mas a principal delas era que era fraca, pois se não fosse fraca não estaria triste.

Letícia não queria ser fraca, por isso teve uma ideia. Começou a combater a tristeza com uma falsa alegria, com falsos risos que tinham a intenção que soarem mais alto que a voz da tristeza. Não queria que sua família e amigos reparassem a sua tristeza e a sua "fraqueza".

A máscara da falsa alegria enganava muito bem, tinha vezes, que por momento, enganava até ela mesma. Mas esse engano não durava muito. Ela não conseguia usar a máscara o dia todo. Sempre tinha aquele momento que a máscara tinha que ser tirada ou caia sozinha, arrancada pelos ventos da tristeza.

O principal momento em que a máscara caía era quando chegava em casa, por isso dela detestar isso. A solidão da casa fazia a voz da tristeza soar cada vez mais alta em sua mente.

Eram nas horas antes de seus pais e irmãos chegarem que Letícia era ela mesma e se deixava embalar pelos ventos da tristeza. Quando sua família chegava, estava novamente com a máscara e procurava ser a mais comunicativa e divertida na mesa do jantar. A que mais ria e preenchia o silêncio com piadas. A menina detestava o silêncio.

Mas nesse dia, ao voltar da escola, algo deu errado. Não conseguia colocar a máscara novamente. Seus pais e irmão estavam quase chegando e ela continuava chorando no banheiro. Com os olhos vermelhos e a voz da tristeza sussurrando que ela era fraca.

Seu coração doía tanto... Ela caiu de joelhos chorando e tapou os ouvidos. Nunca havia tentado combater a voz, apenas tentava rir mais alto que ela ou a ignorar, por isso a voz estava com total força.

Letícia levantou os olhos vermelhos e olhou para o relógio. Sua família chegaria em minutos e a encontraria naquele estado. Chorando no chão do banheiro. Não ia suportar que fosse achada assim.

A dor é como miopia, nos faz ver tudo embaçado. E naquele momento, no meio de suas dores e lágrimas, Letícia achou que a morte seria a única solução. Olhou com um certo sorriso no rosto para a gilete que pegou no armário do banheiro. Quando fez o primeiro corte no pulso começou a rir e a chorar ao mesmo tempo.

Quando as primeira gotas de sangue começaram a cair e a manchar o tapete claro, a menina tentou colocar mais força no corte. A sua tristeza a incentivava. Quando estava prestes a fazer mais um corte, um grito a assustou, olhou para a porta a última coisa que viu antes de desmaiar foi a mãe.

*

Roberta sentia que havia algo por trás da alegria exagerada da filha, mas nunca suspeitou que fosse algo tão grave. Pensou que talvez fosse solidão, pois a menina ficava um bom tempo sozinha. Já havia até perguntando se o tempo só a incomodava, porém Letícia respondeu com seu riso eufórico que não, que gostava de um tempo apenas para ela.

A mulher nunca vai esquecer do dia em que chegou mais cedo do trabalho e encontrou a filha tentando se matar. Foi por pouco que não perdeu sua amada Letícia. O médico disse que se o socorro não tivesse sido mais rápido a menina teria morrido.

Roberta foi tirada de seus pensamento pela voz da filha, que tinha acabado de acordar:

-Mãe?

Roberta abraçou a filha e chorou muito.

-Desculpa, mãe... Eu sou fraca- disse Letícia com um fio de voz, após a mãe a soltar

-Não diga isso. Vai ficar tudo bem...

-Não vai- disse a menina e depois começou a chorar

Entre as lágrimas, começou a contar para a mãe da tristeza que falava e as vezes gritava em seu ser. Falou de como se sentia fraca.

-Você é muito forte. É uma guerreira... Vamos vencer juntas essa tristeza. Você vai ter minha ajuda e de algum psicólogo. Vou tirar uns dias para ficar com você. Seu pai...

A mãe continuou falando e Letícia começou a acreditar, pela primeira vez, que poderia vencer a tristeza ao invés de a esconder.

Mais tarde naquela noite, quando a mãe havia saído e o pai estava no lugar dela. Dormindo devido ao horário. A voz da tristeza tentou falar na mente da menina, mas dessa vez Letícia disse:

-Sou mais forte que você...

A tristeza deve ter ouvido, pois se silenciou. Letícia pensou que talvez um dia conseguisse ser feliz sem nenhuma máscara.

*

Lyanna não conseguiu dormir direito na noite em que soube que Letícia havia tentado se matar. A notícia a chocou e a fez se sentir culpada. Achou que seu pedido havia tido alguma relação.

A menina rolou de um lado pro outro em sua grande cama, mas o sono parecia não vim e e quando veio foi cheio de imagens assustadoras. Sonhou com uma menina cortando o pulso e jogando a lâmina nos pés dela, sonhou com uma festa de máscara em que por trás das máscaras haviam monstros e pessoas assustadas. Um dos monstros segurava vários livros, como seu professor Albert fazia e tinha outros, muitos outros que ela conhecia.

Lyanna acordou assustada e cheia de olheiras. Mesmo cansada se forçou a se levantar.

Enquanto passava maquiagem para disfarçar as olheiras, disse para si mesma:

-Estou cercada de monstros e de pessoas que tem os próprios monstros... Acho que no fim eram as máscaras que nos deixavam seguros...

*

Aguarde o próximo capítulo. Abraços

Ana Carol Machado
Enviado por Ana Carol Machado em 09/08/2015
Reeditado em 09/08/2015
Código do texto: T5340449
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