Liberdade

Ele pisou mais uma vez na calçada. Era doce o aroma da liberdade. Ainda que tivesse passado no instante um daqueles caminhões velhos, com um motorista barbudo e mal encarado soltando fumaça, o cheiro do gás carbônico tinha um diferencial. Não era um cheiro como os outros exalados por motores a combustão. Era o aroma da liberdade.

Continuou caminhando, pensando no que faria dali pra frente. Queria beber, ah uma cerveja seria ótimo. E uma coxinha de frango com catupiry encharcada de gordura. Era melhor que a ambrosia servida nos banquetes olímpicos. Se esbaldaria, faria tudo o que esperou tanto pra fazer.

Mas por algum motivo não estava satisfeito. Tinha a convicção de que essa liberdade tornaria a acabar. Seu estilo de vida o impedia de se afastar daquilo. Ainda assim não queria pensar naquilo, não. Ele queria era ser feliz. Tiraria o máximo de proveito de sua liberdade. Seria feliz ao máximo da palavra.

Iria rever os amigos, amar a mulher que amava, puxar um beque e sentir-se bem. Queria fazer diferente, olhar as estrelas e o pôr do sol. Não necessariamente nessa ordem. Iria a praia, pisaria na areia e mergulharia no imenso oceano. Nada de se lembrar dos dias sem liberdade, não. Disso ele só se lembraria quando voltasse para lá, e a angustia de saber que seria em breve lhe perturbava.

Mas sentir-se vivo era o que queria. Pensou em gritar, ali mesmo na rua. Dar um urro. Mas não queria ser tachado de louco. Passou por uns hippies numa praça. Que inveja sentia deles. Eles eram livres de verdade. Pensou em se tornar um deles, ou talvez um eremita. Abandonar a vida que tivera até então. Mas não podia. Ele sequer sabia porque, mas não podia.

Deixou de lado os pensamentos, e focou-se na cerveja. Era o que ele queria. Já estalava a língua pensando no sabor amargo e no gelado a descer por sua garganta. Ah, a liberdade! Seu telefone tocou, era o chefe lembrando dos relatórios da segunda.