O baile de máscaras - parte 2
Cada capítulo será uma reflexão sobre um tipo de máscara que existe em nossa sociedade. Por isso cada um terá um subtítulo diferente. O capítulo de hoje se chama:
"A máscara que esconde os medos"
"Encontra o caminho aquele que rompe as próprias máscaras, encara a verdade sobre si mesmo, experimenta a amplitude de sua vulnerabilidade e age, superando-se continuamente."
Maria Aparecida Giacomini Dóro
*
Alyssa sempre aparentou ser a mais forte da turma. Aquela que era o porto seguro para os outros. Era para ela que Lyanna corria quando estava triste ou precisava de apoio. As vezes até sua mãe buscava forças na força dela. Como por exemplo no dia em que o pai foi embora, foi a menina que consolou a mãe.
Só que Alyssa escondia muita coisa dentro dela. Não era tão forte quanto aparentava. A máscara que fazia ela aparentar ser forte foi forjada durante muito tempo. Foi forjada desde o início de sua adolescência.
Ela não aparentou sempre ser forte. Durante a infância, Alyssa era uma garotinha assustada que frequentemente se escondia embaixo de sua cama. Em sua mente de criança, acreditava que iria ficar segura e que nada a atingiria enquanto estivesse lá.
A menina ia para o seu esconderijo em dias de tempestades, em dias que estava com medo de um castigo e nas noites em que os pais brigavam. Para ela o escuro debaixo da cama, assim como o silêncio, eram acolhedores.
Só que o tempo fez o seu papel, logo no início da adolescência Alyssa reparou que não poderia mais se esconder debaixo de sua cama. Tinha que enfrentar os problemas de frente, mas ela não conseguiu fazer isso. O que fez foi achar outro esconderijo. Dessa vez dentro dela mesma.
Alyssa se escondeu dentro dela mesma da mesma forma que se escondia embaixo da cama. Os problemas pareciam não a atingir. Pelo menos era o que parecia, pois seu rosto era uma máscara que mostrava alguém forte que encarava tudo de frente. Mas a verdade era que Alyssa ainda era uma garotinha assustada que se escondia dentro dela.
Seus olhos não derramavam lágrimas, mas sua alma chorava dentro dela. E o choro da alma é o pior que tem.
Com o passar dos anos, a máscara foi cada vez se solidificado mais. Parecia que nunca quebraria, apenas parecia, pois no aniversário da amiga da menina tudo mudou.
Alyssa lembra de como estava bem perto de Lyanna. Bem de frente para a aniversariante. Estava tão próxima que reparou algo de estranho na amiga. A menina parecia correr o olhar por todos que estavam por perto. Como se procurasse algo ou alguém. Alyssa tentou ignorar, talvez a amiga procurasse algum primo ou amigo que não veio.
Mas no dia seguinte, quando acordou se sentindo diferente, pensou se aquele olhar de Lyanna não era sinal de algo maior. Sinal de que algo iria mudar.
E algo realmente mudou, pelo menos dentro dela. Ela se sentia fraca e assustada. Como se pela primeira vez na vida tivesse que encarar seus medos de frente. Tivesse que encarar o abandono do pai, os medos e tudo mais. Mas a bem da verdade, aquela era a primeira vez em anos que ela encarava seus medos sem está escondida embaixo da cama ou usando a máscara que a fazia parecer forte.
Ela chorou como não chorava há anos. O choro chamou a atenção de sua mãe que veio correndo ver o que era. As duas choraram juntas. Alyssa falavam com uma voz baixa como um sussurro que estava cansada de ser forte.
Estranhamente, depois de chorar, a menina se sentiu melhor. Se sentiu bem como a muito tempo não se sentia. Naquele momento reparou que não precisaria usar a máscara. Ela poderia ter seus momentos de medo, seus momentos de fraqueza, seus momento sendo ela mesma e mesmo assim ainda seria forte.
A caminho da escola tudo parecia ter uma nova cor e brilho. Perto do ponto de ônibus ela viu Lyanna. A menina estava com seus inconfundíveis cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e usava um vestido rosa. Conversava alegremente com Lucas.
-Olá, Lya e Lucas! - falou Alyssa de forma alegre para ambos
-Olá, Aly!-disse Lucas
-Olá, amiga. Você parece alegre hoje. -disse Lyanna
Antes que percebesse, ela estava abraçada com Lyanna. A menina pareceu surpresa, mas logo tratou de retribuir o abraço.
-Obrigada... - sussurrou no fim do braço
-Pelo que?
-Você sabe... Até a escola. Tchau Lucas!- disse Alyssa se retirando. Algo lhe dizia que Lyanna tinha algo a ver com sua mudança. Ela sentia.
Alyssa nunca teria palavras para agradecer a amiga pelo que fez por ela. Depois de anos, Alyssa finalmente se sentia realmente forte e disposta a encarar seus problemas. Ela encontrou sua fortaleza na fraqueza.
*
Até o próximo capítulo.