Dono de bar
O Arboredo Bar já foi um grande ponto de referência cultural da cidade, teve seu tempo, fechou, reabriu e hoje continua sendo um local para quem deseja ouvir uma boa música, bater um papo sem se preocupar com o volume do som, um bom local para se beber e conversar rodeados de jambeiros que dão uma ótima sombra, em contraste com o sol da cidade.
Nesse dia, sábado, precisamente por volta do meio-dia e quarenta estávamos sentados eu, os dois músicos (nos sábados tem música ao vivo), bem, como eu ia dizendo estávamos sentados eu, os dois músicos e o proprietário, o Rubens. Até aquela hora não tinha chegado cliente algum, o Rubens, claro, triste pra caramba, os músicos já tinham consumido três cervejas, sem clientes não tem cachê. Perdi o ânimo e a coragem de beber já que iria pedir pra pagar depois. Os músicos e Rubens lamentavam tanto que Bob, o segurança do bar, que dormia perto da nossa mesa, acordou, deu uma sacudidela no corpo, olhou pra gente, balançou a cabeça e foi dormir no outro lado da rua.
E nada de cliente chegar, o bar, que é um local alegre, estava numa tristeza só. De repente estaciona uma desses camionetes que é a sensação e o deleite da ostentação de pessoas que se acham bem sucedidas na vida. Descem seis pessoas, três homens e três mulheres, se dirigem à mesa se se sentam. Rubens olha pra gente e fala:
___ Salvou o dia, esse aí é deputado ligado a grandes fazendeiros.
Os músicos se animaram, foram logo para o palco e eu alegre com a alegria do Rubens. O deputado e seus agregados todos à vontade e bem instalados. Nisso o deputado chamou o Rubens no canto e fala:
___ Rubens, você me conhece e sabe que eu sou de confiança.
__ Sei, deputado, e confio no senhor.
__ Certo, acontece o seguinte. Devido a um transtorno, será que você podia liberar e eu pagar a você na segunda, tudo bem? Pode?
O Rubens olhou para os músicos, olhou para mim, passou a mão na cabeça, alisou sua barba grisalha, engoliu sua decepção, baixou sua cabeça, notei que uma lágrima rolou em seu rosto levemente e falou com uma voz embargada e triste:
__ Poooode!!!
Porto Velho, 19/04/15