O VENDEDOR DE BÍBLIAS
                               
 

Um vendedor de Bíblias entrou um dia no consultório de um médico para tentar vender-lhe o seu produto. Fez um eloquente discurso sobre a sabedoria do livro sagrado, das boas coisas que Deus prodigaliza ás pessoas, da necessidade de se ter uma crença, enfim, tudo que um bom vendedor costuma dizer para convencer um cliente. Mas de nada adiantou a sua verve, pois o médico, impassível como um guarda do Palácio de Buckingham, simplesmente respondeu:
– Meu amigo, tudo isso é bobagem, Deus não existe.
– Porque o senhor pensa assim?– quis saber o vendedor.
– Se Deus existisse, não haveria tanta doença, tantas guerras, tanta pobreza e ruindade no mundo  – respondeu o vendedor.
O vendedor levantou-se para sair. Ali estava um cliente que parecia impossível de ser convencido. Mas antes de sair ele viu um grosso livro de anatomia, que estava em cima da mesa do médico. Pegou-o e deu uma pequena folheada.
– Sabe, Doutor – disse o vendedor: – O senhor tem razão em não acreditar em Deus. A propósito, eu também não acredito em médicos.
– Como assim? – perguntou o médico, sem entender.
– Se os médicos existissem, não haveria tanta gente doente nos hospitais, tantas doenças e epidemias pelo mundo, nem tantos mortos nos cemitérios – disse o vendedor, com um sorriso maroto.
– Isso é diferente – respondeu o médico. – As pessoas ficam doentes porque não se cuidam direito, as epidemias acontecem porque os homens contaminam o meio ambiente e morrem porque faz parte da natureza delas. Elas são criaturas humanas. Os médicos não têm nada a ver com isso. 
– Deus também não – respondeu o vendedor, com um sorriso maroto.
E foi embora, deixando o médico com a boca aberta e uma enorme interrogação na mente.