Tempo
Ah, como o sol daquele dia brilhava, o céu estava tão limpo quanto a consciência de um recém nascido, havia poucas nuvens, mas muita, muita alegria pairando no ar, não por nenhum motivo específico, mas porque todos tinham ganhando mais um dia de vida no pequeno e único asilo da cidade.
Dona Lurdes, uma senhora bem idosa de cabelos branquinhos, pele enrugada, mais parecia um papel dobrado e redobrado milhões de vezes aguardava a enfermeira para seu passeio matinal pelo jardim.
Nesse dia a enfermeira demorou, Dona Lurdes sentia a cada segundo que passava sua vida se esvaindo, ela sentia sua juventude ir embora do mesmo modo que folhas caem no outono. Seu quarto tinha uma janelinha, de onde ela via a correria do dia a dia, pessoas falando, andando, algumas gritando, e todas, todas apressadas enquanto ela estava ali, segurando as rédeas do relógio para ele não correr demais.
"Ufa, você chegou minha querida" disse Dona Lurdes ao ver sua acompanhante diária. E lá foram elas, as duas pelo jardim, Dona Lurdes parecia tão feliz, é uma pena que aquele tenha sido o último passeio da Dona Lurdes...