Relatos #1 - Cata Vento
Olhar aquele menino sorrir com aquele conjunto de cores girando perfeitamente com o vento soprado por seu pai, me faz lembrar quando vi um cata vento pela primeira vez. Já faz tanto tempo que a lembrança parece vir em preto e branco, mas aos poucos ela vai tomando forma e adquirindo cores. Primeiro vem o alaranjado da terra batida e das solas dos pés depois de uma partida de pega-pega. Lembro-me das tardes em tom de sépia ouvindo as estórias de meu avô, e que hoje avô, não tenho netos que queiram escutá-las. Aventurei-me nos sete mares sem sair das margens do rio Parnaíba, mesmo sem na época saber que eram sete. Sem calculadora naqueles tempos eu acabei perdendo a conta de quantas vezes me lancei ao rio só para ir roubar mangas no pomar de um vizinho, mangas ainda verdes e ficar com os dentes amarelos após chupar mais de uma dúzia com meus amigos, amigos que hoje já não lembro nem os nomes. Mesmo em lembranças turvas como minha visão ao ponto em que os olhos se enchem de lagrimas, mesmo nessas lembranças me vem felicidades de um tempo que jamais voltará. Tantas, mas nenhuma maior do que a do dia em que eu vi um cata vento pela primeira vez, foi mágico, foi inacreditável, foi inesquecível. E hoje, mas de setenta anos depois, tudo o que eu queria, é que esse garoto pudesse soprar o cata vento ao contrario, e fizesse o tempo voltar para a época em que eu tinha todo o tempo do mundo.
José Manuel, 84 anos
Autor: Leonio Red Fire