O LOUCO

     O fato que vou narrar foi acontecido por volta da década de 1940, vou contar da forma que ouvi, quanto a veracidade não posso afirmar nada a não ser que a pessoa que contou-me não era homem de dizer mentiras. Dito isto vamos ao fato.
      Naquele tempo era muito comum existirem vendas na zona rural, e foi numa dessas que começou o caso, a venda ficava na margem de uma vicinal, estrada de chão na época e continua assim até hoje apenas a venda não existe mais.
     A estrada sai da cidade vai até uma rodovia, tem aproximadamente 30 km e possuí muitas curvas, ramificações que dão acesso aos sítios e fazendas da região. Numa curva dessas localizava-se a venda, um casarão de madeira com várias portas, era chamado na época de armazém de secos e molhados o seu estoque era bem surtido gêneros de primeira necessidade arroz, feijão, açúcar, farinha de trigo, óleo, banha de porco, réstias de alho, de cebola penduradas nos cantos, linguiça, salame, carne seca, sardinha e manjuba salgada etc....
     O que não podia faltar nessas vendas era a cachaça e o fumo de corda que ficava um grande rolo em cima do balcão, o caixeiro desenrolava um tanto cortava e pesava conforme o pedido do freguês.
      A venda era rodeada por várias arvores, entre elas tinha algumas mangueiras, de forma que havia bastante sombra e no sábado a tarde e domingo o movimento era grande pois as fazendas de café e sitos eram cheias de famílias numerosas.
      Numa tarde de sábado no verão, sol quente, em baixo das arvores havia carrocinhas, charretes e vários cavalos arriados todos descansando na sombra, enquanto os homens depois de terem feito as compras, bebiam cachaça e conversavam animadamente.
     Nisso parou um caminhão com uma mudança, desceu um homem e entrou, dizendo que estavam indo de mudança para o município seguinte e que tinha um cunhado que era louco, que tinha se desentendido com a família descido do caminhão muito nervoso e que estava vindo nessa direção, que tomassem cuidados que ele era muito violento quando fora de si, disse isso e voltou ao caminhão e foram embora.
      Evidentemente tratava-se de uma pessoa com problemas mentais, que hoje teria tratamento adequado e se fosse o caso seria internado num local apropriado, mas naquele tempo, ainda na zona rural não tinham nenhum recurso e essas pessoas eram taxadas de loucas e viviam marginalizadas e até em alguns casos abandonadas pela família.
    Houve um alvoroço entre os homens falavam todos ao mesmo tempo, todos queriam encontrar uma maneira de evitar que o louco chegasse até eles, nisso um velho animado pela cachaça decidiu ir de encontro com o homem e fazer com que mudasse o seu percurso.
    Os amigos tentaram evitar que ele fizesse isso más não houve meio, ele saiu com um facão na cintura.
Pouco tempo depois chega o velho sem o facão, com um grande corte no rosto e a camisa toda suja de sangue, dizendo que o louco havia tomado seu facão, dado um golpe em seu rosto e saído correndo pelo meio do pasto, em direção a sede de uma fazenda que não ficava longe dali.
     Rapidamente um rapaz que morava nesta fazenda, montou em seu cavalo e saiu em disparada para chegar primeiro e avisar os moradores.
      Chegando a notícia a fazenda, o administrador reuniu os homens e mandou que pegassem armas, foice, pau o que tivesse e fosse para a porteira que dava acesso a sede e as colônias e não deixassem que o louco passasse dali, em seguida o administrador telefonou para a delegacia da cidade avisando sobre o ocorrido e pedindo para que viessem buscar o tal louco.
    Quando o grupo dirigiu-se a porteira já o avistaram que vinha descendo pela estrada com um grande facão na mão. Este chegando próximo a porteira gritaram que parasse, mas ele nem ligou e continuou andando, os homens mesmo com armas receosos de usá-las foram afastando e nisso o louco passou por baixo da porteira e vinha chegando a eles.
   Logo próximo na margem da estrada havia uma grande caixa d’água quadrada de cimento, um homem que estava com uma garrucha de dois canos subiu nela, o louco ficou andando a sua volta, abriu a camisa e mandava o homem atirar no seu peito, enquanto fazia isso ia riscando com a ponta do facão no cimento deixando-o mais afiado.
     Um rapaz vendo isso percebeu que o colega não tinha coragem de atirar, chegou por traz e com um pau deu uma pancada na cabeça do homem que virou ainda mais nervoso. O rapaz foi correr escorregou na grama e caiu de costa, o louco chegou e cravou com toda força o facão no seu peito, matando-o instantaneamente.
     O coitado parecendo assustado com o que estava acontecendo, deixou o facão e correu no sentido contrário as casas, em direção ao terreirão de secar café.
    Os homens desesperados, alguns ficaram tentando socorrer o rapaz e outros seguiram o louco.
Paralelo ao terreirão tinha uma estrada e mais para baixo passava um riacho bem espalhado numa baixada com brejo e muita taboa, o louco veio correndo e de cima de um barranco pulou ficando atolado aproximadamente até o joelho com dificuldade para locomover-se. Os homens de cima do barranco efetuaram alguns disparos de espingarda e um de garrucha.
    Vendo que ele não se moveu mais o julgavam morto, mas não chegaram perto ficavam de longe olhando, mais tarde chegou com um caminhãozinho dois policiais e com cautela foram chegando perto e constataram que ainda estava vivo, bastante ferido más vivo.
    Com a ajuda dos homens tiraram-no do brejo o amarraram em cima do caminhãozinho e foram para a cidade.
Não sei dizer se o “louco” morreu ou não, assim termina um caso estúpido, de uma época em que pessoas com alguma deficiência mental eram estigmatizadas como loucas, marginalizadas e as vezes abandonadas a própria sorte.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 25/07/2015
Reeditado em 13/11/2015
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