PEDIDO DE CASAMENTO

- Quer se casar comigo?

Luciana pensou... Pensou... Casar? Viver pelo resto da sua vida ao lado da mesma pessoa, abdicar todos os outros rapazes interessantes que cruzaram e cruzariam seu caminho para devotar-se a um só pelo resto da vida, um que poderia fazê-la feliz ou não. Mas afinal de contas precisava mesmo casar para se ser feliz? Quem havia criado essa ideologia de que a felicidade só se consuma para os casados? Quanto aos padres, os monges, as freiras e tantos celibatários da vida? Eles eram felizes, sem as volúpias do sexo, sem o gérmen da paixão e do desejo – não, corrijo-me, por que o do desejo tinham, talvez tivessem a ambos, e mesmo com a abdicação eram felizes. Ou não? Pensou a moça, na fração de alguns segundos, enquanto sugava o canudo do copo de Milk Shake demoradamente a propósito do tempo de pensar no que iria responder.

Não queria magoa-lo. O namorado era um rapaz muito bom, trabalhador, bonito, generoso e sonhador. Acreditava que com ele poderia construir um belo futuro. Sempre tivera certeza que era ele, a pessoa com quem dividiria a vida, até... Aquele momento. Como pode um único momento desvencilhar a vivência de anos! O sonho da sua vida era aquele, casar com um belo rapaz que a amasse e quisesse construir uma história ao seu lado. Por muito tempo teve medo de que isso demorasse demais, não queria entrar nos vinte e seis anos como uma solteirona, igual algumas de suas amigas; agora, porém, aos vinte e cinco, cursando faculdade de enfermagem, tendo tantos amigos e amigas do convívio diário e muitas oportunidades na vida, ser solteira tornara-se prazeroso. Queria desfrutar mais um pouco daquele deleite.

Mas como dizer isso sem magoar o namorado? Como dá um não sem por um fim um relacionamento de cinco anos? Dizer que ainda era muito cedo, que eles deveriam pensar mais um pouco... Certamente o magoaria profundamente. Conhecia bem a índole do rapaz, um não custaria o fim do relacionamento, principalmente porque ele não era qualquer um, tinha garbo, uma boa presença, uma ótima educação; somado ao seu gênio forte, se terminasse o relacionamento com ela por uma rejeição ao seu pedido de casamento, certamente partira para outras conquistas, dentre essas sem dúvida haveria uma garota melhor que ela, que ele ostentaria para puni-la deixando-a cheia de ciúmes e mágoa. Este pensamento a aterrorizou; melhor era aceitar o pedido e deixar as aguas andarem até a data do casamento; assistira em muitas novelas que até diante do altar dava tempo de voltar atrás. Assentir era melhor, era a decisão perfeita.

- É claro que eu aceito!

Disse ela após esvaziar boa porte do copo de Milk Shake com o canudo.

- Você hesitou.

Disse Rafael ressentido.

- Não, não hesitei, estava só tomando meu Milk Shake.

- Durante tanto tempo após eu ter feito o pedido? Se realmente houvesse gostado teria uma reação mais espontânea. Mas tudo bem eu entendo. Casamento é uma coisa muito séria mesmo. Me precipitei; deveria ter pensado um pouco melhor antes.

Disse isso como a sondar os sentimentos dela, esperava alguma resistência, uma explicação que o contrariasse; quando não houvesse, terminaria o namoro naquele mesmo instante. Ela quase que caiu na armadilha; sentiu-se bastante tentada a concordar, dizendo contudo que o amava, que só queria curtir o namoro por um pouco mais de tempo, atenuando totalmente a recusa. Se tivesse certeza que as palavras dele eram sinceras... Mas pelo muito que já o conhecia sabia que não, ele só estava a experimentando, e se ela resvalasse o namoro estaria perdido. Por isso contrariou-o depressa:

- Claro que não! Nos amamos não nos amamos? Estamos a cinco anos juntos. Lógico que eu quero me casar com você. Talvez não me surpreendi tanto com o pedido, porque isso é uma realidade natural pra mim, sempre soube que você me pediria em casamento e construiríamos uma família juntos. Está escrito nas estrelas.

Ele sorriu comovido; era tudo o que precisava ouvir. Pegou-lhe em uma das mãos, apertou entre as suas e prometeu que a faria muito feliz.

- Você já me faz feliz!

Como é de se esperar nessas ocasiões pré-conjugais; sancionaram o futuro consórcio com um demorado beijo.

Luciana não voltou atrás como pensava, em todas as vezes que cogitava a possibilidade, a mesma força que a impelira a aceitar o pedido de casamento a impelia a casar-se de fato. Casaram em três meses. Foi uma celebração solene, com muitos convidados, muitas iguarias finas e alguns pretendentes frustrados pelo casamento de ambos os cônjuges. Todavia nada que atrapalhasse a harmonia das bodas. Não sei dizer se o casamento – me referindo aqui a vida de casado e não a festa – fez jus as primeiras expectativas de Luciana, se realmente conseguiu alcançar a realização matrimonial, prefiro crer que sim, que foram muito felizes.

Dion souza
Enviado por Dion souza em 23/07/2015
Código do texto: T5321094
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