Hugo
Hugo era estranho.
O tipo de criança que quase não saía de casa – aliás, pelo que sei não saía mesmo de casa.
Era o tipo que usava óculos de lentes garrafais... Tímido.
Era aquele garoto que vivia debruçado em livros.
Que tinha aulas particulares...
Que conhecia inúmeras espécies de animais e plantas, mas morria de medo de quaisquer insetos, do sol, da chuva... E por Deus, os pais nunca o deixavam “pegar friagem”.
De todas as crianças do condomínio era a única que não frequentava (em grupinhos) A lanchonete Lanches da Hora aos sábados ou a sorveteria nas tardes de domingo. Nunca foi ao cinema conosco e duvido que tenha chorado com a morte de Mufasa em O Rei Leão.
Até que um dia, já um adolescente crescido, mas um tanto amolecido, Hugo saltou para fora de casa, do mofo, da escuridão, do afeto aprisionador dos pais.
Seus pés descalços e pálidos tocaram o chão de terra. Seus pulmões aspiraram um ar não de todo limpo, mas fortalecedor e que cheirava a renovação. O sol queimou delicadamente sua pele amarelada e o vento afagou-lhe o cabelo negro.
Os olhos dançavam de um lado para o outro.
Tantas cores, tantas formas, tanta luz, era o que diziam.
Hugo nunca mais seria o mesmo.