A Enfermeira & O Prefeito [FINAL]

Lição

Leitores, neste remate boto um almanaque de piadas à exposição das ideias, que é nosso livro de leis e criminalidade. Com isto, já é de se esperar que Morgana não ficasse detenta a longo prazo. E contudo foi de se estranhar que esteve em regime fechado por compridos três meses. Com toda certeza se esta moça tivesse menos de dezoito anos vividos, não veria as grades à sua frente nem por cinco horas.

E como já é diálogo de detenção, sempre começavam lhe perguntando o porquê de sua prisão. Assim que contava a verdadeira história de como ali fora parar, revelando sobre a escarrada nas fuças do prefeito, conquistava amizades e simpatias. Eram conversadeiras de plantão, patrícias de unhas pintadas, ladras, homicidas, valentonas, distribuidoras de fumo; não importava quem fosse, assim que lhes era falada a ocasião em que Morgana disparou uma cusparada num político pilantra, aplaudiam-na e a requisitavam em certo grupo de conversas fiadas.

Ainda que este regalo não lhe supria péssimas condições de vida as quais uma presidiária tem de se submeter, deu-lhe um pouco de carisma a paz que as detentas lhe permitiam.

Bem certo é que, se até Renan Calheiros está solto, por que não a Morgana? E a liberdade lhe foi concedida com um hábeas corpus de seu advogado.

Pode voltar para casa e encontrou as paredes, a mobília, o chão, as roupas e até mesmo a cadela sem a menor interferência do tempo; pois não havia de se notar que houvera mudanças durante sua ausência.

Então foi-se embora. Voltou a Campo Belo e novamente foi fazer plantões. E por bem, o hospital da cidade natal tinha melhores condições.

Ainda sempre antes do dia iniciar-se, ajoelhava-se perante Nossa Senhora de Aparecida, e rogava por sua intervenção com o consentimento de Deus, para que lhe fossem afastados todos os sortilégios que lhe jogassem nos maus caminhos. E nesse instante um raio de lembrança rasgava o pensamento, e ecoava com a voz da amiga que não mais via: Nossa Senhora não concerta safadeza.