A loira do saco
Quando eu era criança, estudei em uma escola que era formada por freiras e padres, apenas as faxineiras, o jardineiro e inspetor do colégio não faziam parte daquela irmandade.
Aquele lugar parecia mais um quartel, com um bando de soldados obedecendo a seus superiores, amedrontava os alunos. Eu e minhas colegas tínhamos o banheiro como o lugar especial, ali era nosso cantinho preferido para colocar a conversa em dia, nos sentíamos livres, parecia um parque de diversões, longe daquelas freiras e padres, que viviam nos monitorando.
Certa ocasião... Na aula do professor Padre Nereu, entrei na sala de bicicleta e gritando muito, nem imaginava que ele já estava lá dentro. E como castigo me obrigou copiar mil vezes: “Tenho que respeitar a sala de aula”. Em outra ocasião... Na hora do intervalo, passei o maior apuro, fui à secretaria falar com a freira Maria, a mais boazinha do colégio e pedi autorização para que deixasse ir ao banheiro urgente, mas teria que ser na minha casa. Era um pedido inútil, teria que convencê-la de alguma maneira. Fiz uma cara bem expressiva! De assustada! Medo! Terror! Eu não podia dizer por que teria que ser o banheiro da minha casa, precisava apenas a liberação dela.
Coitada! Viu que comigo não tinha acordo, pegou o telefone e ligou para minha mãe. Deu-me um ódio! Tudo bem! Nem respirei direito, já vejo minha mãe entrando no portão da escola em direção a secretaria. A freira correu ao seu encontro e dizendo com certa ironia:
- Mãe sua filha está com vontade de ir ao banheiro, e não quer de jeito nenhum usar o da escola, peço que leve ela e tente descobrir o que está acontecendo.
Graças a Deus! Estou liberada! Fui para minha casa, acompanhando minha mãe, ela em silêncio. Naquele momento não me questionou, isso me tranqüilizava. Quando cheguei a minha casa fui correndo ao banheiro. Nossa! Quando saí, me sentia aliviada. Leve! Vou para meu quarto. De repente... Entra minha mãe e pergunta:
- Ana Cláudia, por que você não quis usar o banheiro da escola? Você vive falando que lá é o melhor lugar. Estava sujo?
- Mãe eu adorava ficar no banheiro com minhas amigas, até ficar sabendo que lá dentro existe uma loira aterrorizando algumas colegas. Nunca mais piso meus pés naquele lugar.
- O que é isso filha. Loira do banheiro? Que bobagem! Isso não existe, desde minha época de escola já corria esse tipo de lenda.
- Existe sim mãe! A Silvana me falou que foi ao banheiro e encontrou a loira, vestida com uma roupa azul. Ela pediu para que a Silvana a esperasse que ela buscaria um saco e voltava. A tal loira era velha e feia. A Silvana, nem esperou ela voltar, muito assustada, saiu correndo até a cantina, onde estava todo o pessoal.
- Vamos! Vou te levar de volta a escola, mas antes preciso falar com a freira Maria, saber certinho sobre essa loira.
Ao chegar, na secretaria, minha mãe conta toda nossa conversa para a freira que deu muitas risadas e disse:
- Mãe fica tranquila. Sabe como são essas crianças. A loira que a Silvana viu, é um amor de pessoa. Ela é a dona Sueli, a nova faxineira da escola.
- E o saco, freira?
- O saco, é o que ela recolhe o lixo dos banheiros.