Meu quase Amante Latino-Americano

Sem ser esnobe, até hoje só me interessei afetivamente por homens que possuam certa dose de cultura e muita discrição. Mais que a aparência, o conteúdo é que me fascina...

Sendo funcionária sênior de uma grande agência de viagens, fui designada para assumir um novo e pequeno escritório recentemente aberto em outra cidade. Trabalhando sozinha, mais para orientar potenciais clientes do que para vender pacotes de viagens e passagens aéreas.

Nesse pequeno espaço elegante, eu trabalhava vestida à aeromoça, aprumada, maquilada e sorridente, apesar dos saltos altíssimos me magoando as pernas.

Num dia que parecia comum, aconteceu algo inusitado; um rapaz abriu a porta e assomando a cabeça perscrutou o ambiente. Ao meu ver, entrou, sentou-se à frente de minha escrivaninha e disse:

_ Oi! Tudo bem? Você é nova por aqui, pois nunca te vi... O que você faz?

_ Muito prazer, meu nome é Mayumi e faço relações-públicas, além de oferecer nossos serviços de viagens.

_ Eu me chamo Luís Paulo e sou caminhoneiro. Transporto frangos congelados.

Já é tarde! Você trabalha até de noite todos os dias?

_ Geralmente trabalho... Durante o dia atendo clientes e telefonemas. Só tenho tempo de digitar e arquivar os dados do dia à noite.

_ Bom, agora tenho que ir, mas volto outro dia para a gente continuar o papo. Tchau!

Ri muito!... Sozinha, claro! E não é que ele voltou mesmo? Religiosamente aparecia a cada dois dias mais ou menos.

Entrava, sentava e conversava, enquanto eu tentava terminar meu trabalho para poder ir embora.

Talvez, devido ao cansaço e à atenção dividida, demorei a perceber que ele estava me fazendo a corte, e num estilo paquera descarada!

A cada dia chegava mais garboso, cheiroso além do necessário pois o pequeno espaço não permitia a dissipação de tantos aromas "másculos".

A cabeleira negra bem assentada, dava a impressão de estar bem segura por alguma brilhantina, igualmente perfumada.

A camisa aberta no peito, além de evidenciar o cordão de ouro com um crucifixo, decerto tentava expor o peito viril, peludo.

_ Você disse que gosta de comida japonesa. Vamos embora, eu quero te levar para tomar um Lámen muito bom que descobri...

Pode vir tranquila. Eu prometo que te levo direitinho para a sua casa depois.

_ Obrigada, mas hoje acho que vou até a madrugada. Estou cheia de trabalho por fazer.

_ Você é quem sabe, mas não vou desistir de te levar lá! Tchau!

Como sempre, sozinha, ri muito!... Não vou negar que ele me divertia.

Às vezes ele sumia por uns quatro dias e eu pensava; deve ter encontrado um rosto novo na área... Tudo nele dava a impressão de ser um conquistador, de alguém que estava sempre à caça de novas e emocionantes aventuras amorosas.

Depois surgia, dizendo que dessa vez tinha viajado para longe.

Sua conversa mesclava aspectos do seu cotidiano, enfatizando o quão corajoso era em algumas situações de perigo, falava de seu ex-casamento infeliz, e claro, muitas ambíguas ou descaradas cantadas.

Depois que ele surgiu vestindo calças jeans justas e uma camisa vermelha, do vermelho mais vibrante que eu jamais vira, não teve jeito; passei a associá-lo ao Magal com sua paixão pela cigana!

E nada mais distante do que eu e uma cigana...

Só ficava chateada quando ele se referia à ex-esposa como uma mulher fria, que não correspondia aos seus arroubos.

Como eu estava no ambiente de trabalho, embora já fora do horário normal, eu apenas sorria amarelo, tentando ser cortês.

Mas minha vontade era dizer-lhe:

_ "Meu querido", nós, descendentes de japoneses como eu ou a sua ex, adoramos amar e ser amadas, como toda e qualquer mulher... Somos afetuosas, mas geralmente discretas devido à educação meio oriental.

E apreciamos sobremaneira as sutilezas nas intenções, a delicadeza no trato, assim como a sensibilidade alheia.

Mas, claro, eu nada lhe disse.

Depois de certo tempo fui transferida para outro local, sem ter ido tomar o Lámen e me separando para sempre do meu, lindo, por sinal, latino-americano...

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Allba Ayko
Enviado por Allba Ayko em 15/07/2015
Reeditado em 15/07/2015
Código do texto: T5311530
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