= Finalmente... =
Tomou a decisão. Adiada, postergada quase desde sempre.
Procrastinar nunca mais, pensou. Com dedos em figa, até jurou.
Uma faxina ampla, geral e irrestrita não poderia passar daquele dia.
Começou enviando todos os tapetes e todas as cortinas para a lavanderia. Lenço à cabeça e avental muniu-se de todos os apetrechos, utensílios e produtos necessários para uma radical faxina.
Começou pelo aspirador de pó. Espantada com quanta sujeira os tapetes encobriam. Jogadas e acumuladas por nem sabia a quanto tempo. Decidiu que não mais usaria os tapetes. Ligaria para a lavanderia e diria para que os vendessem caso alguém se interessasse ou doassem. E o piso ali, tão bonito, escolhido a dedo. Bastaria uma aspirada, um pano úmido, algum produto e pronto. Nada de tapetes com sujeiras acumuladas embaixo. E as cortinas também, não mais as usaria. Trocaria por outras, coloridas, ou claras, leves, daquelas que esvoaçam ao toque das brisas. Enquanto tomava um copo d’água, enxugando o suor da testa com o doso da mão, espalhou os olhos pelo ambiente. Um ar de agrado ressurgiu em seu rosto. Já havia até se esquecido do quanto sua casa era bonita. Lembrou-se da sua construção, embalada e acalentada por tantos sonhos...
Depois de um estafante dia de trabalho, cansada pensou, poderia
ter contratado uma diarista. Mas ninguém faria por ela o trabalho que somente a ela cabia. Valeu a pena. O sacrifício ensina a dar valor. Mesmo cansada sentiu-se recompensada. E útil. Após um longo e reparador banho fez um lanche leve, rápido.
Uma sensação nova, boa a invadiu. Tudo que fizera naquele dia
teve um novo prazer, novas cores, voltou a alegria...
Foi dormir. Nem bem deitou-se, adormeceu. “Desmaiou” como se costuma dizer. Da insônia, velha companheira, nem lembrou. Sonhou um sonho bom. Até sua alma, sentindo-se livre, levitou.
Dormiu a noite toda, num sono só.
Quando acordou, a claridade de um novo dia já se fazia.
Levantou-se e abriu as janelas, que rangeram um pouco, por serem pouco usadas. Voltar a cuidar do jardim pensou, seria seu próximo passo depois de trocar, alguns móveis da casa, fazendo uma decoração mais clean. Acenou e sorriu para um velho vizinho e sentiu-se ruborizar... Nem o nome dele sabia. Seu coração, sentindo-se menos oprimido, apertado, voltou a respirar poesia. Os monstros da casa e os urubus do telhado haviam sido expulsos. E que por ela, com fé e esperanças renovadas, mãos postas e agradecidas, jamais voltariam.
= Roberto Coradini {bp} =
09//07//2015