O HOMEM DA BENGALA

Bom dia, caro escritor!

Ontem por volta do meio dia, estava perambulando pela nossa cidade morena, cantarolando como sempre faço. Ao chegar perto do Supermercado Extra, vi uma silhueta do meu lado esquerdo e olhei. Era um homem, cabelos grisalhos, portando uma bengala, parado na calçada.

- Parece que conheço esse senhor, mas de onde?""

Pensei... Pensei... E pensei... "- Já sei! É muito parecido com o escritor Pedro Mattar! Só pode ser ele! Mas eu nem conheço pessoalmente o Pedro Mattar! Conheço alguns de seus textos e sou sua fã. Apenas isso.”

Que apenas isso que nada! Eu fiquei eufórica, feliz e... tímida. Não o cumprimentei. Primeiro porque poderia não ser o Pedro Mattar. Só o conheço de uma pequena foto postada no Facebook. Mas e daí que não fosse! Era só perguntar com educação: “- Bom dia, por acaso o senhor é o grande Pedro Mattar?” Tudo o que poderia receber como resposta seria um “não” ou um “sim”. Mas não arrisquei e me arrependi.

E em segundo lugar porque fiquei com vergonha. O que uma simples transeunte tem de importante para conversar com um nobre jornalista?

Ai que raiva de mim mesma! Deixei passar uma grande oportunidade de apertar sua mão e dizer-lhe pessoalmente: SOU SUA FÃ.

Depois da euforia de vê-lo, veio a tristeza de não tê-lo cumprimentado.

Ah como sou idiota!

Naquele momento não precisava ter grande debate ou imenso diálogo, era só cumprimentá-lo, dizer: TENHO A HONRA DE SER SUA FÃ e sair de fininho, sorridente.

Pronto! Estaria resolvida a questão e ficaria feliz pelo resto da semana! Mas isso não ocorreu.

Afinal, era o Pedro Mattar ou não?

Simone Possas Fontana

Julho/2015

(escritora gaúcha de Rio Grande-RS,

membro da Academia de Letras do Brasil/MS, ocupando a cadeira 18,

membro correspondente da Academia Riograndina de Letras,

autora dos romances MOSAICO e a MULHER QUE RI,

formada em Letras, contista da Revista Cultura do Mundo,

blog: simonepossasfontana.wordpress.com)

RESPOSTA DO PEDRO MATTAR:

Minha prezada Simone, meu perfil não combina com essa imagem que você descreve com muita generosidade. Seu texto justifica colocá-la como protagonista, jamais como fã. Sem conhecê-la, há um bom tempo você me mandou um e-mail elogiando o que escrevi, não lembro a data, e observei em resposta que você deveria encaminhar seus textos ao editor do mesmo jornal. Cheguei a falar com ele, um amigo que acabamos perdendo nesse período. Depois descobri que você já percorria um trajeto literário significativo e merece mais que ser uma simples fã. Especialmente de um sujeito sem nenhum compromisso com a escrita e que escreve pra se divertir.

Mesmo assim fico grato por sua atenção, é bom saber que que existem os que se identificam com as minhas abordagens. Sua falta de coragem foi uma pena, gostaria de tê-la conhecido.

Era eu.

Forte abraço.