Engraçado como o quarto de parede rosa desbotada e lençóis estampados de corações e bonecas agora parecia destoar de sua dona. Aqueles dias andando de bicicleta, correndo na rua e fofocando na calçada eram como que miragem para Lia. Tudo parecia um sonho distante, ainda que tivesse acontecido a menos de um ano. O cubículo pobre, onde ela havia sonhado que era uma super star, uma atriz e médica, só agora mostrava o quão sem graça e feio era.
     Triste despertar da maturidade á força. Um gemido fraquinho, que vira choro sentido, a desperta de seus devaneios. Ela olha para aquele pequeno embrulho que lhe deram na maternidade, observa aquele pequeno ser que levou sua infância para longe, e pensa: "Como esse menininho tão frágil e indefeso conseguiu fazer tudo isso e antes mesmo de nascer?". 
     Uma lágrima solitária escorre em seu rosto, e por um momento se recorda do rapaz quatro anos mais velho que transformou a menina em mulher, que a fez acreditar que era bonita e especial pela primeira vez em toda sua vida, e que sumiu junto com suas juras de amor assim que ouviu de uma sorridente Lia que seriam uma família. Junto com a raiva de Tadeu morreu sua ilusão de conto de fadas com final feliz. Ela começa chora e soluçar, desconsolada com sua fragilidade passada, presente e futura.
     Choram os dois, Lia e seu menininho. Ela pára primeiro, sorri para o seu moleque, seu novo brinquedo, e decidi ser forte pelos dois. O frágil pacote em seus braços a olha, agarra seu dedo e para de chorar, como se tivesse entendido que sua jovem mamãe ia fazer tudo ficar bem. Ela percebe que eles tem um laço e se enche de amor. A dor do abandono e o medo passam. Nesse exato momento morre Lia, a menina e nasce Elisa, a mãe adolescente.

Reflexão sobre a dura ruptura da infância frente uma gravidez na adolescência, baseada na sessão impactante de fotos de Christian Rodriguez.
     
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