Agüenta, coração
Era duro de se ver, o João da Fausta. Morava pros lados da Penha - o marco histórico inicial e mais íngreme em que a Velha Serrana se embrenha, e se emprenha - e, descendo ou subindo aquelas pirambeiras, o João, praticamente, só fazia o trajeto entre a casa e o trabalho.
Afro, operário, e com aquela evidência de endêmico bócio, pra quem dar papo no trabalho ou no ócio? Dava-o, reservada e economicamente, para um ou outro, no setor da fiação, ou do
repassador, da fábrica de tecidos. E tia Rita, já bem pra lá da idade e do tempo de se aposentar, se incluía nesse limitado rol de amigos e confidentes.
Trocavam alguns mimoseios de vez em quando, como para compensar os desentendimentos eventuais e ratificar a amizade, que sempre durava mais. Eram umas buchas, que ele trazia de seu quintal, contra uns chuchus que levava de volta em seu bornal, e os dias corriam.
O João, mais ainda, pois a Penha era longe e os horários tinham que ser cumpridos à risca na dura disciplina operária. Um balão por meros cinco minutos de atraso, anulava todas as benesses do fim-de-semana - além dos aborrecimentos de ter o nome na ficha e na boca do povo.
E quando veio a Rita aposentada pra casa, guardou a boa lembrança do João e até o convite para o seu casamento, aquela surpresa que pegou tanta gente desprevenida, pois muitos achavam que o João não era daquilo. Se casar, bem entendido. Mas a Rita não foi. Não tinha pés que aguentassem aquela andança toda. Ou era coração pra boda?