ODEIO RECEBER VISITAS

O despertador tocou e dei um tapa que o jogou no chão. Era apenas 10 da manhã do domingo.

Há três semanas eu conheci uma garota, Ruth, em um saral. Era divertida, debochada, bebia muito, fodia bem mas comecei a cansar dela quando se INSTALOU no meu apê.

Meu problema é que eu nunca soube dizer "não" na hora certa. Eu ia levando, levando, e quando não aguentava mais eu explodia e ganhava a fama de maluco.

Foi assim com a Ruth. Primeiro deixou uma calcinha (gostei, me sentia o Wando) depois a escova de dentes, uma muda de roupas, depois foi levando a MINHA ALMA.

-José, levanta da cama! Hoje teremos uma visita.

Eu ainda estava meio bêbado da noite anterior e não dei atenção para o que ela falou. Sacudi uma garrafa de vinho que estava no chão, ainda tinha uns goles, bebi. Morar na lapa não era ruim. Do meu quarto ainda podia ouvir as vozes das pessoas bebendo desde a noite anterior. Às vezes, de madrugada, eu ouvia uma briga, um casal trepando, travestis gritando.

Levantei e fui ao banheiro. Minha cara no espelho estava horrível. Estava acabado, pensei. Fiquei assim nas ultimas três semanas. Devia ser o efeito da ALMA indo embora.

Fui até a geladeira e vi que sobraram apenas duas long necks. Abri a primeira e saí para comprar mais algumas. O botequim estava aberto e o balconista com cara de tuberculoso estava lá.

-Amigo, me vê uma dúzia de Stellas?

-Só temos Original de 600 ml.

-Serve. Mas nesse caso me dá meia duzia. A grana tá curta.

Comecei a pensar no que Ruth tinha falado. Teremos visita. Que diabos! Não lembro de ter convidado ninguém, mesmo estando bêbado na noite anterior. Comecei a ficar deprimido com a possibilidade de ter que interagir com uma visita surpresa e por isso pedi uma dose de cachaça pro tuberculoso.

-Não acha exagero beber pinga tão cedo?

-Cara, hoje é domingo e você está trabalhando desde sete da manhã. Não me venha falar de exagero.

-Ele fechou a cara e serviu a pinga.

Paguei a conta e voltei pra casa. No caminho eu simulava um tiro na minha cabeça com uma pistola imaginária.

-Porra José, uma hora e meia pra comprar a cerveja? Minha mãe está quase chegando.

-TUA MÃE?

Apontei o revolver imaginário pro meu saco e atirei.

-Sim, ela vem ao Rio uma vez por ano. Prometi que levariamos ela no Cristo. Ela já chegou na Rodoviária.

-Olha Ruth, eu não vou poder. Não vou estar em condições.

-Como assim NAO VAI ESTAR EM CONDIÇÕES? Você está ótimo.

-Fala pra ela que estou bêbado.

Mas você NAO ESTÁ BEBADO.

-Tenho seis cervejas aqui. Até ela pegar o ônibus e saltar na Lapa serão uns quarenta minutos. Com certeza estarei bêbado.

-Ela está vindo de Taxi, José.

-Puta que pariu!

Larguei as cervejas de lado e abri a garrafa de Whisky, enquanto Ruth saiu pela porta chorando.