O inglês de Cilica
Já com a vaga da aposentanda Theotista praticamente garantida, Dona Cilica - que havia feito um curso de extensão em biologia na Universidade de Indiana - não apenas esperava: sinais abundantes dava de que aspirava e inspirava.
E para preencher o seu tempo e granjear simpatias, ofereceu, de graça e com a graça que lhe deu Deus, um curso noturno informal de introdução à língua de Tio Sam.
Foi calorosa a acolhida por parte de umas duas dúzias de aspirantes que, como eu, alunos de primeira e segunda série ginasial não tínhamos ainda acesso às aulas de inglês - regalia que somente a partir da terceira se oferecia. O que nos era dado a alcançar era o francês, de dona Lenita, por sinal língua bonita, mas já de menor serventia, pois filmes americanos - ou mexicanos - eram só o que se via. E queríamos saber o que John Wayne falava. Ou o que o Sinatra cantava.
E nos acorremos àquelas aulas improvisadas dadas nas salas do grupo escolar Francisca Botelho, o chamado grupo novo - mas só em oposição ao velho, que era centenário e o novo apenas sessentão.
E Cilica na sua animação pedagógica nos dava seu melhor esforço para nos fazer aprender pelo canto: era My Bonnie lies over the ocean, Are you sleeping, are you sleeping, Brother John?, e mais outros sucessos menos votados.
A experiência cessou logo. Falta de voz, de empatia, de empolgação ou de empenho do corpo discente. Afinal, nos dávamos conta de que a terceira série ia chegar qualquer dia.
Já as novelas, os namoricos, não podiam só confiar no canto - queriam ir também pelos cantos.