OLHOS DE ADEUS

Naquele dia quando ele teve alta hospitalar, foi logo pedindo ao filho:

-Me leve para casa. Estou com saudade de tudo que tem por lá. Esse “ar” de hospital é muito ruim. Nem gosto de respirar ele.

Quando ele tentou descer da cama a enfermeira quase gritou:

-“Seu” João, espere um pouco, vou buscar a cadeira de rodas, para o senhor ir até o carro de seu filho.

João havia permanecido vários dias no hospital e ficara amigo de muita gente que por ali também passara, dos outros enfermos, das enfermeiras, dos médicos. João tinha um semblante calmo, tranquilo, ninguém podia imaginar o turbilhão de pensamentos que lhe ia à alma desde o momento em que ao imaginar que ele estivesse dormindo conversaram ao seu lado.

João ouviu que lhe restavam poucos dias de vida, que nada mais poderia ser feito por ele, que tinha uma doença terrível no fígado e que o seu quadro de saúde não tinha como ser revertido. Então naquele momento ele começou a se despedir. Tinha pressa, pois sabia que o tempo urgia. Não tinha nenhuma esperança ou ilusão. Sabia que cada gesto de carinho que lhe dirigiam era por piedade. Não queriam que seus últimos dias fossem de tristeza. Havia um enorme empenho em lhe satisfazer as vontades.

Não havia a necessidade de lhe dizerem que seus dias de vida estavam expirando. Inconscientemente ao realizar todos seus desejos eles lhe diziam a gravidade de seu quadro de saúde.

João ao chegar a sua casa foi recebido com alegria por sua cadela Nina, ela pulou em seu colo e lambeu seu rosto. O gesto da cadela SIM era espontâneo. Agia por pura emoção e saudade. Ah se ela soubesse que em breve ele não estaria mais ali para cuidar dela, para brincar com ela, leva-la para caminhar. Abraçou-a forte junto ao peito. Suspirou sentido e caminhou em direção ao seu quarto.

Sabia que jamais seria perdoado por seu gesto, que estava sendo covarde, mas com o adeus nos olhos João colocou fim à sua vida. Não quis se definhar mais ainda diante de sua família. Estava triste demais para lutar por uma causa que sabia ser perdida.

Wal Ispala
Enviado por Wal Ispala em 21/06/2015
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