O grito
Seis anos era a idade de Maria quando, logo pela manhã ela ouviu a voz de sua mãe lhe dizendo alegremente:
-Maria, a porca deu cria! Venha ver. Tem um monte de leitõezinhos de todas as cores, escolha um para você.
-Obaaa! Eu posso escolher um, mãe? Ele vai ser meu? Posso por nome e cuidar dele?
-Claro que pode!
Maria olhou os filhotes, todos eram lindos, mas um pequenino que estava quase fora do chiqueiro sem conseguir sequer chegar às tetas da mãe foi o que mais lhe chamou a atenção.
-Quero aquele mãe! Coitadinho. Parece tão indefeso. Será que ele não vai morrer de fome? Olhe, os irmãozinhos dele nem deixam ele mamar.
A mãe de Maria olhou em direção ao que ela indicava e viu um belo porquinho rosado lutando para se aproximar das tetas da mãe dele. Pegou o pequenino e colocou-o junto com os outros e ele mamou avidamente.
-Que lindo mãe! Ele estava com tanta fome. Não é mãe? O nome dele vai ser “Cuxi”!
-Porque “Cuxi”?
-Ah porque eu vou chamar assim: Cuxi,Cuxi, cuxi,Cuxi, e ele vai aprender rápido.(Nomes escolhidos por criança nem sempre tem "porque").
O pai de Maria olhou o porquinho e descobriu que Cuxi era fêmea.
Cuxi cresceu rápido. Sempre que Maria ia comer algo repartia com Cuxi, portanto além da ração que o pai de Maria lhe dava, Cuxi também comia as guloseimas que Maria inocentemente lhe dava(inocentemente porque Cuxi engordava rapidamente e qualquer dia iria ser abatida pelo pai de Maria).
No dia que Maria descobriu que Cuxi iria ser abatida Maria chorou.
-Pai, você não pode fazer isso. Cuxi é meu animal de estimação. Não pode comer ela.
-Filha ela está muito gorda, nem consegue mais andar direito. Está na hora do pai fazer isso. Ela foi criada para isso.
-Não pai. Ela não. Eu não quero comer ela. Nem quero ouvir o grito dela.
A mãe de Maria precisou sair com ela para que o animal fosse sacrificado e ela não ouvisse o grito de Cuxi. Durante muitos anos Maria não conseguiu comer carne de porco, pois em todos eles ela via Cuxi.