A senha
No quinto dia útil de cada mês eu dedico uma hora de meu dia para pagar as contas de casa. Poderia colocar as contas no débito automático, mas gosto do velho e antigo modo de pagamento: enfrentando a fila da lotérica. E sabe por que ainda faço isso? Por puro prazer!
Parece sadismo, ou masoquismo, dê o nome que quiser, mas gosto de fazer isso. Gosto de ficar ali na fila e conversar. SIM: CONVERSAR! Conversar com estranhos, fazer novas amizades. Observar as pessoas e DESESTRESSAR.
Há pessoas que se estressam nas filas, porém eu desestresso, gosto de observar o ser humano cansado no final de mais um dia. Uns suados, outros apenas cansados, uns querendo tirar vantagens: Levam os filhinhos de colo para pegar uma fila mais rápida. Outros simplesmente ficam e deixam a fila andar.
Nesse mês eu fiz uma nova amizade. Ela estava tranquila e me disse que não tinha pressa, afinal tendo pressa ou não teria que esperar sua vez, então nem ficava brava, pois sabia que isso não iria levar a nada. Eu aproveitei e disse que também não tenho pressa, que vivo um dia de cada vez, que vivo o momento sem pressa, pois nem sei o que me espera no momento seguinte. Ai ela me contou de um discurso que ela havia ouvido um dia e que no mesmo a pessoa dizia que não se deve ter pressa, e citou o exemplo:
Tem gente que tem pressa que chegue logo o dia.... Sei lá o dia 18!E, se o dia 18 for a “senha”? Ou seja: E, se quando chegar o dia 18 “Alguém lá em cima” disser:
-Seu dia! Venha! Por isso nada de pressa, pois não sabemos qual é nossa senha. Certo?
Não sei qual minha senha, portanto. Vivo o momento com intensidade.
Não perguntei o nome da mulher, nem ela perguntou o meu, mas valeu a conversa, valeu a ida na lotérica, valeu a hora na fila.