Um Extra
Depois de três dias de viagem, Valmir descarrega o caminhão no Paraguai. Logo recebe uma proposta pra levar um carregamento para São Paulo. Ele sabe que as cargas daquele país são muito visadas pela fiscalização. O senhor Gonzales, com seu confuso portunhol, não adianta detalhes sobre o carregamento. "É pegare ou largare!".
Valmir pensa nas dívidas e resolve arriscar. Ganha a estrada e logo está em território brasileiro.
Depois de rodar mais da metade da viagem, se sente mais aliviado. Até que, no Estado do Paraná, seu caminhão é parado.
Os policiais rodoviários conferem as notas e a carga; detectam o contrabando de cigarros (provavelmente falsificados). O arrependimento vem tarde. Ele é jogado numa cela com toda espécie de contraventores.
Sua mulher e os três filhos recebem apenas um telefonema dele. Depois só ficam sabendo notícias através do senhor Juarez, o dono do caminhão, que viajou para resgatá-lo. O caminhão é claro. "Perguntei pro pessoal lá e me disseram que a situação do seu Valmir é muito complicada". Relata pra esposa do caminhoneiro.
A mulher quer viajar pro Paraná pra tentar ajudar o marido, mas não tem dinheiro. "E quem vai ficar com as crianças?".
O coração da mulher se sobressalta quando toca o telefone, a campainha ou quando escuta barulho de motor de caminhão. Acha que o marido vai voltar.
Três meses depois, ela recebe a visita de um velho caminhoneiro conhecido do marido. "A história lá praqueles lados do Paraná é que o seu Valmir se enforcou na cadeia". Com algum esforço ela chora.
Após a saída do visitante, a mulher vai ao quarto e tira uma caixa de dentro do armário. Observa a apólice e conclui que já não da mais pra esperar.