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Naquele tempo eu estava em transição entre o 1/7 Grupo de Aviação e o Esquadrão de Suprimento e Manutenção. Sim, após treze anos no esquadrão aéreo como tripulante e mantenedor, fazia-se necessário a complementação do quadro de inspetores do Esquadrão de Suprimento e Manutenção. O Márcio Simão estava indo para a reserva e eu iria substituí-lo. Para isto já havia cumprido previamente o requisito do curso de Inspetor. Alguns mais antigos declinaram desta responsabilidade. Eu acatei voluntariamente. O Edilberto não queria sair do Esquadrão a prestar serviço, o Georges estava entre a unidade e o Rancho, o Guedes tinha ido para Belém. Era a minha vez. Isto não significava um rompimento pois estas duas unidades tinham uma relação simbiótica, cármica e transfusível.
Também estava mudando de eras, não em era de mudanças, o comando do Esquadrão Aéreo. Acabava de ser designado para a chefia o Coronel Marcus Belfort.
É praxe a todos os comandantes receberem um curso de segurança de voo antes de assumirem as tarefas à frente do pessoal e das máquinas aéreas. Neste curso especificamente, algo chamou a atenção do cadete comandante. Ele fora alertado pela estatística de acidentes aeronáuticos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes que o 1/7 Grupo de Patrulha estava há doze anos sem acidentes.
Realmente fora no dia 27 de junho de 1985 a queda do P-95 7053 nas costas de Fortaleza, levando consigo quatro de nossos nobres companheiros. De acordo com a pirâmide de eventos temporais...as probabilidades...era a hora.
Já havia passado o tempo, sim, estávamos em 1997 e o alerta amarelo do Centro funcionou, acendeu no painel de alarmas.
- Eu piloto, você decreta emergência para a torre de controle e abre a listagem de cheques ...mecânico auxilia o 2P.
O que mais fazer o piloto em comando para evitar aquele previsto e provável acidente?
Como poderia ele elevar o nível de percepção de risco de toda a tropa sem o sacrifício de equipamentos e vidas???
Como aplicar as nove dimensões de avaliação de riscos potenciais?
Qual teoria de percepção dominou aquela pesquisa do risco, a teoria cultural ou o paradigma psicométrico?
Como eu disse no início, naqueles dias eu estava entre os dois hangares e ouvi o toque do clarim . A tropa já estava em forma, postada no local diário e ouviam o sentido, em sentido, do toque de silêncio. O emotivo melhor corneteiro da banda de música soprou os primeiros acordes suspirosos.
Da Sala de Briefing ao hangar, pelo corredor, quatro PA's marchavam em passos largos de funebridade com um caixão, um esquife adrede preparado.
"-Aqui jaz um piloto imprudente."
Dizia o cartaz em listel, junto à "ordem e progresso" da bandeira nacional, sobre a tampa do sarcófago. O melhor músico da orquestra ventilou seus emotivos e últimos acordes misericordiosos.
Alguns cadetes menores prenderam o riso ... Outros arrepiavam-se...o momento era de reflexão, uma mudança de eras. O ataúde estava vazio mas o cadete Coronel havia ultrapassado, neste simulador, a barreira do tempo com seu aeródino intacto e toda a sua tripulação em segurança. Nós temos que simular agora com uma tripulação completa, o órgão familiar clamando, o desespero das viúvas, o órfão chamando e alguma fonte, uma onda de luz que sustente nossas asas à deriva no vácuo que fica em nosso voo e no hangar das nossas vidas.
Hoje fazem quase trinta anos....Pêm....pêm...pêm...
DA PÁTRIA........
SO RR LUÍS CARLOS DE OLIVEIRA
Em 13 de junho de 2015