As Duas Vidas de Leonora
Leonora foi adotada no mesmo dia em que nasceu.
Levada diretamente da maternidade para sua nova casa, ela não se adaptava: estava sempre doente, pálida, chorando.
Seus pais olhavam para aquele bebê apático - não era a princesinha loira que esperavam. Não conseguiam admitir a sua decepção, mas não protestaram quando a cozinheira pegou Leonora no colo, e a levou com berço e fraldas para a despensa gigante que havia na cozinha.
Entre as paredes aquecidas pelo fogão à lenha, Leonora floresceu. Vivendo no meio das ervas e das hortaliças ela aprendeu com as criadas da casa tudo sobre a fina alquimia dos remédios salvadores e dos venenos invisíveis, uma sabedoria passada de mães para filhas, em segredo.
A beleza da mocinha não era para os salões. Ainda que a mãe teimasse em vestí-la com rendas, era nas ruas da periferia, onde ela andava com os filhos das criadas, que se sentia em paz. Na rua, com os amigos, era Norinha.
Brincava de bola de gude, de luta, de soltar pipa. Crescia comendo angu com espetinho, roubando goiaba nos sítios à beira da estrada, e, a partir dos quinze anos, arrumava namorados.
Norinha chegava em casa toda suja de fuligem e lama, e, quando, eventualmente, encontrava seus pais, elas a olhavam de uma maneira estranha. Um dia soube o motivo. Planejavam colocá-la em um colégio interno, só para meninas.
- Para você aprender modos de moça - Dizia a mãe, feliz como se tivesse descoberto a cura do câncer.
A garota pareceu consentir, mas na semana antes de começarem as aulas ela desapareceu.
Tempos depois souberam que ela estava casada e tivera um filho. Um lindo menino negro, como o pai. Disseram que ela havia colocado o berço do bebê na cozinha, e que cuidava dele enquanto aviava garrafadas milagrosas para os pobres da cidade.
Disseram que Norinha era feliz.
Seus pais ouviram mas não se importaram. Haviam adotado outra menina loira. Não mais um bebê chorão, mas uma obediente garotinha de cinco anos que adorou a casa de ricos onde foi morar.
Leonora foi adotada no mesmo dia em que nasceu.
Levada diretamente da maternidade para sua nova casa, ela não se adaptava: estava sempre doente, pálida, chorando.
Seus pais olhavam para aquele bebê apático - não era a princesinha loira que esperavam. Não conseguiam admitir a sua decepção, mas não protestaram quando a cozinheira pegou Leonora no colo, e a levou com berço e fraldas para a despensa gigante que havia na cozinha.
Entre as paredes aquecidas pelo fogão à lenha, Leonora floresceu. Vivendo no meio das ervas e das hortaliças ela aprendeu com as criadas da casa tudo sobre a fina alquimia dos remédios salvadores e dos venenos invisíveis, uma sabedoria passada de mães para filhas, em segredo.
A beleza da mocinha não era para os salões. Ainda que a mãe teimasse em vestí-la com rendas, era nas ruas da periferia, onde ela andava com os filhos das criadas, que se sentia em paz. Na rua, com os amigos, era Norinha.
Brincava de bola de gude, de luta, de soltar pipa. Crescia comendo angu com espetinho, roubando goiaba nos sítios à beira da estrada, e, a partir dos quinze anos, arrumava namorados.
Norinha chegava em casa toda suja de fuligem e lama, e, quando, eventualmente, encontrava seus pais, elas a olhavam de uma maneira estranha. Um dia soube o motivo. Planejavam colocá-la em um colégio interno, só para meninas.
- Para você aprender modos de moça - Dizia a mãe, feliz como se tivesse descoberto a cura do câncer.
A garota pareceu consentir, mas na semana antes de começarem as aulas ela desapareceu.
Tempos depois souberam que ela estava casada e tivera um filho. Um lindo menino negro, como o pai. Disseram que ela havia colocado o berço do bebê na cozinha, e que cuidava dele enquanto aviava garrafadas milagrosas para os pobres da cidade.
Disseram que Norinha era feliz.
Seus pais ouviram mas não se importaram. Haviam adotado outra menina loira. Não mais um bebê chorão, mas uma obediente garotinha de cinco anos que adorou a casa de ricos onde foi morar.