SÉRGIO CARLOS, O VENDEDOR! Novo Final!

Sérgio Carlos trabalhava numa concessionária de automóveis. Era vendedor. Por sinal, um bom vendedor. Simpático, agradável, os clientes confiavam nele. Dificilmente, perdia uma venda. Era bem conceituado pelos diretores e colegas. Sérgio Carlos era o tipo de sujeito sobre quem se podia dizer bem sucedido.

Um dia chegou à loja um casal de jovens. A menina procurava um carro assim e assim. O rapaz que a acompanhava também queria um carro, mas assim e assim. Sérgio Carlos entusiasmou-se ante à perspectiva de venda de dois carros num único atendimento. Batia a meta do mês faltando ainda alguns dias para o seu encerramento. Muito bom! Estava ficando cada vez melhor, pensou!

Imaginava que tipo de profissão exerciam aqueles dois jovens bem apessoados, vestidos e perfumados. A menina muito bonita, loirinha, olhos azuis, dentes alvíssimos, corpo sarado. O rapaz, bronzeado, forte, empertigado e falante. Um casal realmente bonito, observou. Pelo tipo físico de ambos, pareciam ser professores de educação física, ou atletas, ou donos de academia. Viu que não era nenhuma das hipóteses, quando os jovens preencheram a ficha de cliente. Na verdade, eram apenas estudantes. Então, seriam jovens afortunados de famílias abastadas. Já havia atendido outros jovens com histórico sortudo semelhante.

Escolhidos os carros, Sérgio Carlos ofereceu-lhes diversas opções de financiamento. Todas rejeitadas, pois os jovens queriam pagar à vista e, incrivel, em dinheiro. Surpreso, o vendedor procurou manter-se natural. Por dentro, estava simplesmente atônito, pois jamais isso acontecera com ele em seus quase 15 anos de carreira. O dinheiro estava dentro da mochila rosa que a jovem carregava.

Sérgio Carlos levou-os para uma sala fechada onde poderiam então contar o dinheiro. Acompanhado do gerente, Sergio Carlos começou a receber as cédulas que lhe chegavam em montinhos de dinheiro.

O gerente sentado ao lado do vendedor também conferia as notas. Foram dividindo as notas em montes de mil reais e dispondo-os lado a lado à frente de ambos. O casal conversava naturalmente e não parecia estar preocupado com a contagem.

Sergio Carlos já havia separado trinta montes de cédulas, igual número a de seu gerente, e havia ainda muitas cédulas para separar e amontoar.

Após uma hora de contagem de cédulas, Sérgio Carlos informou que faltava uma nota de 50 reais. A menina procurou dentro da mochila e não havia outras notas ali. O rapaz pediu para recontar, pois o dinheiro havia sido contado por eles e não havia falta, tanto que fora aquele exato valor que eles sabiam possuir o que foi negociado na compra dos dois automóveis.

O gerente teve a ideia de chamar outras duas pessoas para os ajudarem na contagem e reduzir o tempo da mesma. Duas moças que trabalhavam no financeiro foram convocadas e munidas de esponja molhada se acomodaram à mesa e os quatro, então, reiniciaram a contagem.

Em meia hora a conferência estava concluída e os cinquenta reais continuavam faltando. O rapaz pediu nova contagem porque a quantia estava exata, insistiu.

Uma das moças pediu autorização para chamar outras duas colegas, pois o que fora feito em meia-hora, agora poderia ser feito em quinze minutos. Autorizadas, as outras duas colegas dividiam o espaço pequeno da mesa. Seis pessoas separando e contando cédulas e mais cédulas. Ao final de um quarto de hora, o dinheiro estava todo recontado, com exceção de cinquenta reais.

Sérgio Carlos ponderou com o comprador para complementar com a quantia restante e, caso na recontagem fossem encontrados os cinquenta reais, os mesmos lhe seriam devolvidos. O jovem alegou que não tinha com ele ou com a moça a quantia que restava, todo o dinheiro que possuíam havia saído da mochila.

Então, Sérgio Carlos, o gerente e as quatro moças já estavam se preparando para reiniciar mais uma vez a contagem, quando o chefe levantou-se, abriu a porta e chamou dois outros funcionários que estavam ali próximos tomando um cafezinho. Como não havia mais lugar sentado à mesa, estes dois homens permaneceram de pé. Cada qual recebeu uma porção de cédulas e começou a contar, calmamente.

Em menos de sete minutos tudo estava mais uma vez recontado e os cinquenta reais continuavam faltando. Cento e vinte e sete montinhos estavam dispostos sobre a mesa, sendo cento e vinte e seis de mil reais cada um e apenas um com apenas novecentos e cinquenta reais.

O gerente cansado informou que faltavam cinquenta reais e ofereceu aos jovens a possibilidade de pagarem com o cartão de crédito ou débito bancário. Eles não utilizavam cartões de qualquer tipo, portanto, não poderiam fazê-lo. O gerente, então, informou que não poderia fazer nada. Sérgio Carlos passava a mão pela vasta cabeleira preta, nervosamente.

Todos se entreolharam, os jovens permaneciam calmos. A menina pegou a sua mochila que estava na cadeira, abriu-a sobre a mesa e, lentamente, começou a recolher os montinhos de dinheiro e acondicioná-los dentro da mochila. Alguns minutos depois, com todos os montinhos de dinheiro já no interior da mochila, ela fecha o zíper com calma, coloca a mochila nas costas, agradece pela atenção, dá a mão ao namorado e ambos saem da sala conversando com naturalidade.

Sérgio Castro paralisado olha o casal sair da sala com os cento e vinte e seis mil e novecentos e cinquenta reais. Eram quase seis da tarde e, agora restavam menos dias para o final do mês e ainda lhe faltava uma meta a ser batida.

Algumas horas depois...

A concessionária já havia fechado e agora era o pessoal da limpeza a fazer o serviço. D. Marta, a mais antiga funcionária da limpeza da firma, entra na sala de reunião. ‘Até que não estava muito sujo o local. Só passar um paninho por cima da mesa e uma vassourada pela sala,’ definiu. Ao passar a vassoura por sob a mesa qual não foi a sua surpresa ao encontrar uma nota de R$ 50,00. Graças a Deus! A comida estava acabando em casa, aquele dinheiro ajudaria muito, pois não queria incomodar o filho por ajuda: um quilo de carne, dois litros de leite, dois de feijão, um de arroz, uma duzia de ovos, talvez? Ficaria calada quanto ao achado. A quantia não era significava praticamente nada para o pessoal do departamento, pois todos ganhavam bem, vendiam muitos carros todos os dias. Cinquenta reais para eles gastavam em meia-hora no bar ao lado após o expediente, todos os dias, enquanto para ela, aqueles cinquenta reais era comida e alento até o final do mês. Decidiu não comentar com nenhum colega da limpeza, mas o faria só com o seu filho. Quando chegasse em casa ligaria para ele a fim de lhe contar sobre o ocorrido. Ele ficaria contente com a sorte da mãe e entenderia as razões para ficar com o dinheiro, certamente. Fora ela haver-lhe conseguido o emprego quando obrigou-se a casar com a namoradinha que engravidara. Seu primeiro emprego e parece que havia dado certo. Os patrões gostavam muito dele. Tinha muito orgulho de seu menino! Era um excelente funcionário.

Sorriu, enfiou o dinheiro no bolso do uniforme rapidamente e continuou com a limpeza, mais feliz e aliviada na consciência com a justificativa encontrada, agradeceu a Deus pela sorte do dia e por ter um filho como o seu, Sérgio Carlos. Ele ia ficar feliz, também!