Quando te vi amei

Quando te vi amei te....

Era um dia chuvoso, um desses dias em que nos entendíamos na monotonia, o que tornava meu dia produtivo era os livros e os filmes cults dos quais eu me embriagava.

Enfadonho pela mesmice resolvi procurar boteco e buscar um pouco de vodka com limão para tornar meu dia menos sensato.

Caminhando pela rua, comecei fitar as pessoas, os automóveis, estava tudo banal como de costume, as pessoas comentando das outras, os carros estressados com o sinal. Ao atravessar a rua quase fui atropelado pela minha distração, não sou o tipo que decora ruas, casas, lugares, coisa de lunático, o dono do fox prata solta um xingamento em alto tom de fúria, todos ao redor me olham e eu caio no riso, gostei daquela sensação, será que se eu fosse atropelado as pessoas me notariam mais? Será que alguém naquela multidão ao ver meu corpo espalhado no chão teria algum interesse em saber quem fui? Do que gostava? Oque eu achava da vida? Alguém se sensibilizaria?

Como disse o gênio do Pop Art Andy Warhol : ‘’ No futuro todo mundo terá quinze minutos de fama’’ . Não, eu não teria os quinze minutos e ninguém ficaria tão perplexo diante a um atropelamento pois cidade grande é assim, a cada minuto uma pessoa sofre acidentes, e eu só seria lembrado as pessoas que realmente me amavam e mesmo assim com o passar dos anos a lembrança ia se desfazendo como cinzas ao vento. Eu sempre tive muito respeito pelos mortos, os meus entes queridos que se foram eu espalho a sua memória a quem não conheceu, acredito eu que o pior pesadelo de um morto é o esquecimento.

Eu penso demais, por isso quase fui atropelado, alguns Poetas Franceses quando procuravam inspirações para suas auspiciosas poesias, caminham sem cessar, sem destino, e eu estava no caminho pois sou morador novo nesse subúrbio e mal conhecia o lugar.

Virei a esquerda e me deparei com um boteco decadente, cheirava a cachaça e peixe, os homens apostando quem bebia mais, as mulheres com pouca roupa naquele frio de 9 graus; pessoas assim me passa a impressão de que sabem viver , e eu até gosto desse tal ‘’ submundo’’, sem preconceito entrei no bar atrás de minha querida vodka.

A dona do bar, já uma senhora, uma pele senil, unhas má pintadas e uma voz grave de fumante que parecia consumir cigarros há quarenta anos.

– Não tenho mais vodka moço, só tenho pinga 3 pipa – respondeu num ar seco, com aquela voz que parecia aquela senhora do filme ‘’Nina’, – Ok Obrigada – respondi cordialmente e saí.

Não me agrada mais a pinga, tomei muito com tubão nas rodas ‘’ Dark Wave’’, hoje perdi o gosto , na minha caçada avisto um barzinho, um lugar, bem decorado, lembra o estilo escocês.

Entrei no bar, ambiente tranquilo, aconchegante, talvez seja por estar quase vazio, sou meio introspectivo , não gosto de lugares lotados. O garçom veio me atender, um rapaz descolado, boa aparência, tinha uma mania de ficar mordendo o lábio inferior, fiz meu pedido e imediatamente o rapaz foi atrás do balcão, fiquei observando ele preparar os drinks, que habilidade, parecia muito satisfeito com seu trabalho, eu fiquei feliz por ele, hoje em dia é difícil fazer o que gostamos, temos que abrir mão de sonhos e desejos e ir para o caminho que nos trás dinheiro e também frustação.

Perdido em meus pensamentos foi que vi ela, a mulher que tirou a minha crendice de que não existe amor a primeira vista, foi entrando no bar num gingado de felino, um cabelo louro volumoso, e aquela boa energia, pediu Blood Mary e sentou se, oh aquele olhar, olhos azuis do mais pálido e atentos, meio melancólicos, misteriosos e solitário, eu estava enfeitiçado, paralisado, ‘’És Venus de Milo deusa da minha vida? Quando seus olhos cruzaram os meus a minha alma foi tocada, me senti um tanto patético com todo aquele sentimento repentino, mas foi verdadeiro.

Minha bebida chegou e eu estava totalmente desnorteado, tomava a meticulosamente para ficar o máximo de tempo possível vendo a Afrodite em pessoa, sua mesa estava de frente a minha, o seu jeito delicado de cruzar as pernas, de tocar o cabelo, aquilo tudo me deixou maravilhado, não parecia estar esperando alguém ou com interesse de conhecer alguém, passava a impressão que gostava daquela tranquilidade, já fazia 20 minutos que eu estava observando a discretamente, não, não iria até ela puxar assunto, não sou o tipo inconveniente, que segue e solta cantadas baratas, não digo só por insegurança, embora eu estava com uma aparência desleixada: barba comprida, cabelos longos e muito magro, não estava nos meus melhores tempos.

Fui para casa com o pensamento naquela bela mulher, passava dias, meses, e eu não tirava ela da cabeça, sem saber seu nome e quem era, lembrei de um poema de Fernando Pessoa que poderia descrever isso:

‘’ Quando te vi, amei te já muito antes ‘’, - queria muito que a segunda estrofe encaixava: ‘’ Tornei me a achar te quando te encontrei.

Mas não a encontrei, metade de mim queria voltar ao local, investigar quem era aquele sonho. A outra metade queria aquele amor platônico, vivenciar aquela quimera somente em pensamento: ‘’Te amo em segredo’’.

O único amor duradouro é o platônico, não ve defeitos, nos meus devaneios meu anjo louro é perfeito.

Passou – se 6 meses desde aquele dia em que tinha tudo para ser mais um dia comum, e não foi pelos acontecimentos peculiares e pelo despertar de um sonho de amor, nunca esquecerei daquele dia singular...

Denise Brunato
Enviado por Denise Brunato em 08/06/2015
Reeditado em 24/03/2016
Código do texto: T5270042
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