Zinha e Dinho chegaram à Venda do Vadinho no topo do morro. Uma construção também antiga e mal cuidada, que destoava do casario daquela rua. Fachada amarela desbotada, com reboco descascado mostrando fileiras de tijolos dispostos irregularmente.  Aberturas em marrom, duas janelas abertas e no centro o portal de entrada, com uma escada de cimento de três degraus. Acima do portal uma placa de madeira, carcomida pelo tempo e quebrada ao meio, onde se lia: Venda do Va
                Seu interior, um pouco escuro, iluminado pela luz do Sol e por dois bocais de luz pendurados nos caibros do forro. As mercadorias expostas em prateleiras de madeira ou em cima de estrados ou no imenso balcão que separava a área da clientela.
                 Atrás do balcão estava um homenzinho entroncado, sexagenário, de olhos espertos, sorriso largo e com um grosso lápis vermelho enfiado atrás da orelha esquerda. Sim, Vadinho era canhoto.
                Pendurado acima da balança de dois pratos um cartaz escrito com letras tortas: FIADO FOI TRESONTONTE.
                Com as “canjicas de fora” cumprimentou a Zinha e o meninote.
-Bons dias!
-Dia sêo Vadinho.
- Tásh boazinha quirida?
- Máli-mali e o sinhori?
_ Constipado.
- Deve sê da friagi.
- O vento súli nosh lombo, bate uma priguiça... Quéqui tu quésh?
-Abóbra pequena.
-Eshta tá boa?
                A Zinha fez sinal que sim, enquanto Vadinho colocava a abóbora num dos pratos da balança. No outro colocou um peso de ferro de 1kg e foi testando outros menores até equilibrar os pratos da balança.
-Pronti, bem pesado: unsh trezentosh  e cinquenta. Que mági?
-Fósfo, pau-de-sabão e uma duza de ovo.
_ Protinho .
                Tirou o lápis vermelho da orelha e rabiscou um pedaço de papel somando.
- Puxa-puxa, mãe!!!
                 Gritou o Dinho.
-Assucega rapagi! Quéto! Não istrova!!!
-Tudinho por sêsh e oitenta.
                A Zinha desenrolou o dinheiro que trazia na mão fechada e depositou sobre o balcão uma nota de cinco reais e duas de um real.
-Fásh ansim . Dôsh puxa-puxa pro Dinho, passo a régua e fecho a conta.
-Oba!!!
                Gritou o Dinho aos pulos de alegria.
-Tá bão.
-Quésh ansim ou quésqui embrulhe.
- Ansim tá bão. Vem Dinho, pega a puxa-puxa e o fósfo. Inté logo sêo Vadinho.
- Inté quiridosh. Vão com Deugi.
- Fique com Ele...




Dicionário/Dialeto do Manezinho (Ilha de Santa Catarina - Florianópolis)

*Abóbra – Abóbora.
*Adepôgi – Depois.
*Ansim – Assim.
*Assucegar  (assucega) – Sossegar, ficar quieto.
*Canjica de fora – Dentes de fora, estar com o sorriso aberto.
*Constipado – Gripe, resfriado
*Duza – Dúzia.
Fósfo – Fósforo.
*Máli-mali – Mais ou menos.
*Istrová – Atrapalhar, complicar. De estorvo.
Pau-de-sabão – Sabão em barra.
Puxa-puxa – Doce caseiro feito com melado de cana de açúcar
Quéto! – Quieto!
*Rapagi – Rapaz.
Quésh - quer
Quéqui  tu quésh–  expressão: O que você quer...
Súli - Sul
*Tresontonte – Antes de ontem.

(*) Imagem Google

 
Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 07/06/2015
Código do texto: T5269171
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