Valentim era valente
Valentim era um garoto valente!
Na escola ninguém podia com ele. Na rua, não havia garoto que não levou sequer um cascudo.
Assim Valentim foi crescendo. Na juventude, brigava na rua, mexia com namorada alheia, e
chamava baixinho o baixinho da esquina, e chamava pescoção o gigante da outra rua. Ainda assim, Valentim não perdia pra ninguém...
Depois ele entrou na faculdade, pensando todos que Valentim iria se acalmar.
Foi aí que todos se enganaram...
Valentim se apaixonou!
A menina tinha olhos de fada, sorriso de menina, andar encantador... A menina era uma princesa. Valentim se apaixonou!
Valentim nunca perdeu nenhuma briga, nunca apanhou, nunca sentiu medo nem vergonha. Valentim era valente!
A menina era filha do prefeito da cidade, namorava o sucessor, que por sua vez era filho do delegado da cidade. Mais Valentim era um cara valente. Não brigava pra apanhar. Não sabia o que era dor. Não sabia o que era perder. Valentim se apaixonou!
E naquele instante viu-se atadas as mãos com laços de seda. Chorou a sua derrota. Talvez a única, talvez a última...
Valentim que nunca antes havia se rendido caiu no chão dos rejeitados, chorou o choro mal amado. Sentiu a dor, o medo e a tristeza de um perdedor.
Valentim havia esquecido que era valente!
Valentim era valente! Valentim nunca perdeu! Valentim nunca apanhou! Valentim se apaixonou!
E foi aí que Valentim apanhou, Valentim perdeu, Valentim fracassou, Valentim se apaixonou.
E com uma faca travada no peito Valentim se matou!