Algo a ensinar

"Sempre existe algo para aprender ou ensinar, basta que tenhamos boa vontade"

O barulho pungente do soco foi o último que Thomas ouviu antes dos aplausos que ecoaram em seus ouvidos. O som gutural das vozes agitadas, o deixaram levemente tonto. Mas ele resistiu e revidou o golpe, levando seu adversário ao chão e deixando a plateia ainda mais emocionada, a ponto de lançar palavrões contra a mãe do pobre que havia desmaiado e quase agonizava no chão gelado do octógono. Thomas foi carregado pelo treinador, que pulou para dentro com a rapidez de um gato e o abraçou com alegria.

-Campeão! – Era o que a plateia gritava.- Nosso campeão- Gritava o seu treinador.

A embriaguez daquele momento, o deixara atordoado. Estava estafado da luta e só queria cair em sua cama e dormir. Mas os seus fãs lhe esperavam e ele precisava autografar camisetas, luvas, lenços, badanas e até calcinhas, uma vez ou outra. Entrou para o vestiário e, enquanto se livrava do short suado e das luvas, sorriu de alegria por ter conquistado mais uma vitória. Era um fato que ele era um grande atleta, mas se não fosse por seu treinador, nunca teria chegado até ali. Entrou no banho, se livrou do cheiro forte de sangue, suor e água que se fundiam numa sintonia com odor não muito agradável, vestiu sua roupa e saiu, preparando-se para a fila de garotos que provavelmente lhe esperava na saída.

DIA SEGUINTE, ESCOLA SIR IZAQUE NEWTON

A manhã era chuvosa. Apesar do frio, a academia estava fervilhando. Todos estavam em torno do campeão, que relatava seu feito da noite anterior com entusiasmo. Os olhos dos garotos mais novos brilhavam. Todos queriam ser como ele, viver como ele e, é claro, lutar como ele. Thomas era o mais velho do grupo, mas se portava como se tivesse a mesma idade dos garotos. Assim como eles, tinha bolsa de estudos da escola para a prática de esportes. Como pagamento, parte dos patrocínios eram destinados a ajudar a escola a desenvolver novos projetos, voltados ou não para a prática esportiva. Thomas, até agora, era o melhor fruto da safra de pequenos atletas. O garoto rebelde que deixava as professoras com os cabelos em pé, se tornara num grande lutador. O menino demonstrou grande habilidade com as artes maciais e uma disciplina que surpreendeu os professores da escola. No entanto, suas notas eram as piores do colégio. Sempre ficava a um passo da reprovação, mas era salvo pela diretora que não pretendia perder sua maior fonte de renda. Além disso, o menino representava uma propaganda positiva para a escola, que já não andava muito bem das pernas. Thomas se ocupava em demonstrar com riqueza de detalhes os golpes que dera no seu adversário e como revidara as suas investidas. Os meninos olhavam boquiabertos e suspirantes. Do outro lado, na sala dos professores, uma discussão calorosa se formava.

-Mas isso é um absurdo- A professora levantou a voz para tentar se fazer ouvir entre os ruídos de desaprovação dos colegas.- Esse garoto nunca frequentou uma só aula e está aprovado na maioria das matérias?

-Qual a surpresa, Mirian, você também concordou em aprova-lo, não foi?- A professora de história a olhou com desdém.

-Não, eu não concordei. Sempre achei ridícula essa ideia de que apenas o esporte pode formar um cidadão. Esse projeto deveria ajudar os alunos a melhora suas notas e sua disciplina, não tirá-los das salas de aula.

-Por favor, acha mesmo que vai fazer alguma diferença para eles? – O professor de matemática bebericou um gole de café.- Esses meninos não precisam estudar, eles não querem estudar. Para eles, qualquer coisa que os livre dessa responsabilidade, é lucro.

-Isso pode não fazer diferença para eles, mas faz para mim. Falem o que quiser, mas não vou aprovar esse garoto. Ele é um desastre em termos de rendimento. Não frequenta as aulas, nem mesmo se dá ao trabalho de fazer as provas...

-Mas vence lutas, rende dinheiro e, melhor ainda, rende boa propaganda para o colégio- O professor de geografia entrava na sala e a interrompeu.- Seu discurso é idealista, colega. Até concordo com ele, mas não seja ingênua ao ponto de pensar que sua atitude vai mudar alguma coisa.

-Pode até ser, mas eu não vou desistir...- Mirian suspirou. O desanimo de seus colegas chegava a ser constrangedor. Pareciam estar tão acostumados com o descaso, que não conseguiam reagir. –Vou conversar com a diretora, hoje mesmo.

-Você vai o que?- O professor de física saltou uma gargalhada longa.- Mirian, meu amor, deixe disso. É melhor sentar aí e deixar passar. Estressa menos. Qualquer coisa que você diga a nossa querida diretora, será inútil. Lembra quando tentamos alertá-la sobre aquele aluno....como é mesmo que ele se chama?

-Vitor...

-Isso! Lembra o que ela fez?- Mirian se lembrava bem do episódio. O garoto sofria de vários problemas. Além de ser arredio e agressivo, tinha muita dificuldade de aprendizado. Mirian foi a primeira a cogitar a possibilidade dele sofrer algum tipo de abuso em casa. Com a ajuda de alguns colegas, foi até a diretora e tentou convencê-la a chamar os pais do garoto, a conversar com eles e tentar encontrar uma solução para o caso. Mas a sua resposta foi curta e grossa: -Não sou madre Teresa de Calcutá. Se o garoto sofre abuso, não é minha obrigação resolver.

-Pois é, minha cara. Eu, se fosse você, não mexia nesse vespeiro. – Mirian suspirou. Apesar de achar todo aquele discurso absurdo, sabia que os colegas tinham certa razão. A diretora já demonstrara não ter nenhuma preocupação com o crescimento dos alunos ou com sua formação. Seu único interesse era ganhar dinheiro, fama e angariar mais alunos. Sabia que qualquer coisa que fizesse ou dissesse, não mudaria isso. Todavia, seu lado racional e idealista lhe dizia para tomar uma atitude. Não estudara tantos anos para agora se calar diante de uma situação tão absurda quanto essa. Não poderia simplesmente passar por cima disso e achar que dormiria bem a noite. Se comprometeu a, se não todas, salvar ao menos uma alma do limbo do descaso escolar. Com apoio ou não, ia levar até o fim a sua desaprovação àquela posição.

-Pois eu vou mexer nele, sim! - Bateu os punhos sobre a mesa.- Se não for desse jeito, tudo vai continuar na mesma, sempre...

-Mirian, você é uma gracinha, sabia? – O professor de inglês sorriu com ironia- Além de muito bonita, ainda tem ideias mais bonitas ainda. Mas o que tem de bela, tem de tola. Acha que vai salvar o mundo?

-Não! Mas se eu conseguir salvar ao menos um aluno, já estarei satisfeita. – Os colegas gargalharam baixo. Ela sabia que não poderia contar com eles. Todos já estavam acomodados em seus cargos. Sua única preocupação, era receber o salário no fim do mês. Mas ela não. Ela era diferente deles. Não era melhor, apenas não queria ser igual. Recolheu suas coisas e saiu. Aquele ambiente lhe causava náuseas.

ACADEMIA

Thomas estava socando o saco. Enquanto se ocupava dessa tarefa, seu treinador gritava com alguém ao telefone. Por sua expressão, era perceptível que estava furioso. Gesticulava muito e saltava uma grande quantidade de saliva enquanto vociferava.

-Mas o que é que essa vaca pensa que está fazendo?- O homem, de feições carrancudas e magras, ficava ainda mais assustador enquanto falava. – Eu não tenho tempo para isso, a senhora sabe. – Grunhiu de raiva quando recebeu uma resposta negativa do outro lado da linha. – Tenho mesmo que ir? – O homem suspirou, vencido. Desligou o telefone e o colocou sobre a mesa. Thomas continuava a bater no saco, mas parou ao ouvir o grito furioso vindo da sala ao lado.

-Sim, senhor, algum problema?

-Hoje, logo após o treino, temos um compromisso.- O homem coçava a barba com insistência, demonstrando impaciência.

-Compromisso?- Thomas arqueou as sobrancelhas.- Algum problema, treinador?

-Um problemão, garoto!

-Algum patrocinador?

-Antes fosse. A va...- O homem parou antes que começasse a xingar de novo. –Uma das suas professoras está criando problemas.

-Como assim?

-Ela, por alguma razão que desconheço, resolveu te reprovar.

-Reprovar!?-Fazia tempo que Thomas não ouvia aquela palavra. Nem mais fazia parte do seu vocabulário. – Mas por que?

-Exatamente! Não faço a mínima ideia. A diretora pediu para que fossemos a uma reunião com ela, hoje à tarde.

-Isso é mesmo necessário?

-Você gosta de lutar, garoto?

-Claro, treinador

-Então é melhor que esteja pronto as 15:00, bem aqui nessa sala.

SALA DA DIRETORIA

Mirian estava apreensiva. Quando tomara a atitude de ir até a sala da diretora, não esperava nem mesmo que ela fosse te escutar, muito menos que fosse convocar uma reunião com o treinador e o garoto. Talvez os colegas tivessem razão, aquele menino era precioso demais para ela. Estava sentada no sofá, na sala de espera que ficava na entrada da sala da diretoria. Com as mãos sobre o colo, tentava repassar tudo que pretendia dizer, todos os argumentos que utilizaria. Sentia-se como um advogado se preparando para defender a causa mais difícil da sua vida. A reunião estava marcada para as 15:30, mas chegou às 15:00. O relógio na parede já marcava 15:20 e nem o treinador nem o garoto havia chegado. Talvez não viessem, pensou consigo. Mas se fosse o caso, desceria até a academia e falaria com o treinador, querendo ele ou não. Quando repassava pela vigésima vez as palavras que diria, avistou duas pessoas entrando na sala. Um homem magro, de altura mediana e bastante carrancudo sentou ao seu lado, sem cumprimenta-la. O garoto que lhe acompanhava, deu um boa tarde quase inaudível, que ela nem teve tempo de responder, pois foram chamados a sala da diretora. A diretora, uma mulher de meia idade, com cabelos negros e longos, que prendia habilmente num rabo de cavalo, era conhecida por sua inabilidade no trato com pessoas. Mirian bem sabia disso. Era vítima recorrente de seus insultos, mas não ligava muito para eles. Ela olhou os três com cara de poucos amigos e lhes apontou as cadeiras em frente à sua mesa. Mirian sentou primeiro, logo depois o garoto fez o mesmo, ficando ao seu lado. Na última cadeira, o treinador sentou-se agitado.

-Bom, parece que estão todos aqui. Como eu adiantei pelo telefone, o senhor já deve saber o motivo dessa reunião.- A mulher apontou seu olhar mórbido para o treinador.

-Sim!

-Ótimo!- Cruzou as mãos sobre a mesa. – A professora Mirian, que o senhor já deve conhecer, se recusa a aprovar o jovem Thomas. Segundo ela, é um absurdo a escola ser complacente com o garoto, já que ele é um óbvio fracasso como aluno.

-Me desculpe, mas não foi isso que eu disse, eu...

-Não me interrompa, terá sua vez de falar!- A mulher a atalhou grosseiramente.- Como eu ia dizendo, a professora não irá aprovar o jovem, apesar de ter concordado anteriormente com isso...

-E por que mudou tão rápido de ideia?- O treinador a olhava com desprezo.

-Não mudei de ideia, porque simplesmente nunca concordei com isso. Mas a escolha, até o momento, não era minha. Mas cansei de compactuar com esse absurdo. No que depender de mim, esse garoto será reprovado.- Mirian estava decidida a não se deixar intimidar pela sua desvantagem.

-Olha aqui, sua...- Alexander se acalmou. Nunca pensou que uma mulher pudesse lhe causar tanto ódio. Aquela mulherzinha insignificante acabara de lhe tirar do sério.- Minha senhora, eu não sei o que lhe deu na cabeça, mas só posso achar que está ficando louca. Sabe quanto lucro esse moleque traz para essa espelunca? – O homem gesticulava feito louco, apontando para Thomas, que o olhava passivo.- É muita grana, minha senhora. Além disso, eu duvido que a diretora vá concordar com essa sua ideia absurda.- A diretora os observava sem movimentar um músculo. Estava parada, recostada em sua cadeira, sem nenhuma vontade de interromper a discussão.

-O senhor é que ficou louco. Não me interessa quanto ele rende para a escola, o fato é que esse “moleque”, como o senhor diz, nunca colocou os pés na minha sala de aula. Como quer que eu o aprove com louvor?

- Ele não precisa da sua porcaria de aula! Ele só precisa ganhar lutas, ponto final! É tão difícil entender isso?

-Na verdade, é sim! O senhor diz se preocupar com o bem estar dos garotos, mas os trata como trastes, como animais de carga que só tem a obrigação de carregar seus fardos e pronto. Eu acredito que eles podem ser mais do que isso.

-Mas é uma...- Sua mão quase levantou para deferir um tapa no rosto trêmulo de Mirian, mas recuou.

- Uma o que? Vamos, seja corajoso e diga...

-Vamos nos acalmar!-Finalmente a diretora saiu do seu estado de petrificação.- O senhor, queira se sentar e abaixar a voz. A senhora, deixe seu discurso feminista para um outro momento. O que está em discussão aqui, é o garoto Thomas.

-Não esquecemos disso, diretora.- Mirian suava de ódio.

- Ótimo! Então foque no assunto.

-Eu considero a reunião encerrada. Não tenho que ficar aqui dando ouvidos a uma desvairada.- Alexander intentou se levantar, mas o olhar fuzilante da diretora o paralisou.

-Sente-se! Eu ainda não o mandei sair. – Suspirando, ela recostou novamente na cadeira.- Eu acho que estamos perdendo tempo, é um fato. Por isso, vamos logo ao x da questão. A professora quer reprovar o aluno, mas nós sabemos que se ela fizer isso, o patrocínio será cortado e, tanto ele como a escola perderão com isso. Acredito que não é o que ela deseja, por isso ela há de concordar comigo, que a melhor opção para esse caso é entrar num acordo. Assim como o senhor também. O que me diz, professora?

-Não quero prejudicar a escola, muito menos o Thomas. Quero apenas ajudar...

-Ajudar? Você que ferrar a vida do garoto e me vem com: Eu só quero ajudar?- Alexander teve vontade de mata-la

-Cale-se, ou mandarei que se retire...

- Minha proposta é que o garoto faça algumas aulas de reforço, que podem ser no horário oposto aos treinos. Depois, ele fará uma avaliação. Se sair-se bem, o aprovo. Caso contrário, eu o reprovarei. – Mirian sentiu o olhar congelante de Alexander em sua direção, mas o ignorou.- Isso não vai atrapalha-lo em nada. Nem vai prejudicar sua rotina de treinos e lutas.

-Isso é ridículo!

-Isso é o que proponho. Como a diretora já deve ter lhe dito, eu não vou apenas reprovar o aluno, vou levar o caso a Secretaria de Educação, que com certeza não ficará feliz em saber da negligência da escola em relação a ele. Se apenas sonharem que as frequências são adulteradas...

-Sem mais, professora. Já compreendemos! O senhor, Alexander, aceita a proposta?

-Me resta alguma opção?

-Não! – A diretora o olhou com declarada fúria. – Estamos acertados, então.

-Quando começará essa palhaçada?

-Amanhã, se não for um problema.

-Claro que é um problema, mas a senhora decidiu transformar isso em um caos, então que seja! Amanhã o garoto vai estar aqui.

Thomas, que assistia a tudo em completo silêncio, direcionou um rápido olhar para Mirian. Já a havia visto algumas vezes pelos corredores, mas nunca tinha prestado muita atenção. Agora que estava cara a cara com ela, notara que ela era mais interessante do que imaginara. Ficou impressionado com a sua coragem em enfrentar Alexander, que estava obviamente furioso. Ninguém o confrontava desse jeito. Mas ela não se intimidou. Não estava muito certo se o que sentia naquele momento era admiração pela sua força ou se raiva por ela se intrometer na sua vida. Quem ela pensava que era? Por que o escolhera para Cristo? Se ela pensava que ele iria facilitar as coisas, estava muito enganada.

COLÉGIO SIR IZAQUE NEWTON, SALA DE AULA.

Mirian encerara suas aulas as 12:30. Assim como combinado, esperava por Thomas em uma das salas vazias do pavilhão superior. O colégio possuía dois enormes pavilhões. No turno da manhã, ambos eram ocupados por alunos do fundamental dois e ensino médio. Na parte da tarde, somente o pavilhão inferior era ocupado e atendia apenas os alunos do ensino médio. Por isso, o pavilhão superior ou o “ Carandirú”, como os alunos carinhosamente chamavam, ficava vazio. Já passava das duas e o garoto não apareceu. Impaciente, ela olhava o relógio enquanto comia um sanduiche. Se ele não aparecesse, estava disposta a ir busca-lo na academia. Quando estava prestes a desistir de esperar, Thomas entrou pela porta. Com um ar de grande desanimo, não aparentava nenhum arrependimento pelo atraso.

-Pensei que o combinado era começar as aulas após o treino.

-Bom, eu estou aqui, não é?

-Atrasado!

-Se quiser, posso ir embora...

-Não! Não vou te dar o prazer de me irritar, meu jovem. Sente-se, tenho o resto da tarde livre para te ensinar. – Mirian o observou. Thomas era alto demais para a idade. Apesar da musculatura bem trabalhada, era, obviamente, um garoto. Ainda que quisesse aparentar mais, tinha apenas 19 anos. Seus olhos eram amendoados e os cabelos, cortados muito baixos, tinham leves tons de castanho. A pele bronzeada, parecia estar em constante contato com o sol. Muito bonito, mas bastante indisciplinado. Percebeu, logo de cara, que aquele seria um trabalho árduo. O garoto de despojou na cadeira e fitou a professora. Não trouxera nada, além da mochila com seu material para o treino.

-Trouxe, pelo menos, um caderno?

-Não me disse nada sobre trazer um caderno...

-Não parecia obvio ?- Mirian estava começando a se irritar, mas sabia que o caminho não era esse. Se partisse para o confronto, ele fugiria pela tangente e nunca mais voltaria. – Bom, vou lhe dar algumas folhas. Anote tudo que eu disser, pois vou cobrar na prova.- Estendendo as folhas, lhe entregou uma caneta e foi em direção ao quadro. – Lembra-se qual foi a última vez que esteve numa sala?

-Devo responder a essa pergunta?

-Só quero saber qual foi o último assunto de Língua Portuguesa que você aprendeu.

-Sei lá...

-Essa não é uma boa resposta.

-Eu nem deveria estar aqui. Me ensina qualquer coisa, assim você se livra de mim e eu me livro de você.

-Eu sei que não queria estar aqui, mas pense que essa pode ser a sua oportunidade de mudar a sua vida.

-Qualé, professora. Acha mesmo que pode mudar a minha vida com meia dúzia de palavras? Para começar, eu detesto português, acho um saco! Segundo, se vai ficar aqui tentando me convencer que lutar não me levará a lugar nenhum, vou mandar que enfie essa droga de aula bem...

-Já entendi!- Interrompendo-o com uma das mãos estendidas, ela voltou para o quadro novamente. Ele queria guerra, ela daria isso a ele. Precisava tocar na ferida. Tentou ser compreensiva, delicada, mas ele queria demonstrar sua superioridade. Ele tinha força, mas ela tinha uma arma ainda mais poderosa, o conhecimento.- Já que você quer assim, vamos começar pelo assunto que considero o mais difícil: Transitividade Verbal!

-Transi...o que?

-Ué, nunca ouviu falar?

-Deveria?

-Pensei que fosse um especialista!

-Não enche!

-Tudo bem! Vamos lá, me diga o que sabe sobre verbo.

-...- Thomas a olhou. Notara logo que ela o estava atacando. Ele pensava que iria intimidá-la com facilidade, mas ficou acuado diante da estratégia dela.

-Ficou mudo?- Mirian ria por dentro. Não costumava ser tão má com seus alunos, mas Thomas a atingiu com força, ela apenas feriu de leve seu calcanhar de Aquiles.

-Já entendi o que você está fazendo.

-Entendeu? Então me diga...

-Quer provar que é superior a mim...

-Acha isso?- Aproximando-se dele, sentou numa cadeira a sua frente.- Acha que estou querendo humilha-lo porque sei mais do que você?

-É claro que está!

-Não era minha estratégia inicial. Você me atacou, colocou suas armas sobre a mesa. Eu apenas demonstrei que sei fazer o mesmo, utilizando as minhas armas. Só quero que entenda uma coisa, Thomas. Não quero humilha-lo, ataca-lo, o te prejudicar. Quero te ajudar. Você, obviamente, é um menino inteligente, porque não utilizar essa inteligência para algo além da força bruta?

-Eu não sei o que é verbo.- Ele respondeu sem olha-la. – Mirian sorriu. Reconheceu que admitir aquilo fora um esforço enorme para ele. Retornou ao quadro e resolveu voltar a estratégia inicial.

-Tudo bem, vamos aprender juntos!

Continua...

A opinião de você é muito importante para mim. Acham que esse conto está bom, deixem seus comentários. Agradeço

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 28/05/2015
Código do texto: T5257477
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