QUESTÃO DE OPINIÃO
Maria Helena acabava de tomar sua “latinha” de cerveja. Permanecia sentada na mesa do bar que ficava no térreo do prédio onde trabalhava. Já havia se passado cerca de quarenta minutos desde que chegara. Não que fosse amante inveterada de cerveja e muito menos de beber sozinha em um boteco de quinta categoria. O problema é que passava das nove horas da noite e nem o calor infernal e muito menos o trânsito diminuía. Maria Helena não queria dirigir até sua casa nesse trânsito maluco e por cima transpirando em bicas. Pediu mais uma cerveja...
- Vê também umas azeitonas e um pouco de salame - Estou roxa de fome - Pensou.
Deu um gole na cerveja que trincava de gelada. Chegou a arrepiar. Colocou uma fatia de salame na boca e mais um gole na cerveja. Olhou para a rua. Nada, o movimento de veículos só aumentava. Outro gole na cerveja e desta vez uma azeitona. Engasgou... Não conseguiu mais ver a rua. Despencou da cadeira e estatelou-se com força no chão encardido do bar. Tudo escureceu medonhamente e a dor dilacerava.
Quando Maria Helena acordou estava deitada em uma cama da Santa Casa de Misericórdia. Dois dias tinham se passado. O primeiro rosto que viu foi o de Casemiro. O marido estava pálido, cabelos em desalinho a camisa suja e cheirando a suor. Atrás dele viu Teka, a irmãzinha querida, completamente absorta em teclar o seu “iphone plus” de última geração. Ao virar o rosto viu, do outro lado do quarto, a mãe. Dona Rosa segurava um terço e uma bíblia na mão. Estranho... Pensou Maria Helena. Nunca soube que mamãe fosse carola.
Foi Dona Rosa a primeira a falar:
- Filha o que houve? Você está com algum problema? Conta pra gente...
- Foi no emprego? Quis saber Casemiro.
- Do que vocês estão falando? Interrompeu Maria Helena.
Teka tirou o fone do ouvido e interveio, era a única que parecia raciocinar naquele momento. Afastou a mãe e o cunhado de perto da cama e acalmou a irmã. Pelo menos era essa a intenção.
- Querida irmãzinha, lembra do bar onde você enchia a cara? Pois é. Ligaram de lá pois você capotou. Teve um AVC e já era...
- Como um AVC? Eu só tenho quarenta anos... E isso só dá em velho.
- Quarenta e sete “aninhos” queridinha, corrigiu Teka de forma zombeteira. E isso pode dar em qualquer idade. Principalmente em quem não se cuida.
Dona Rosa interveio querendo saber se a filha estava muito atarefada no serviço. O marido insistia em saber se o chefe dela aprontara alguma coisa. Dona Rosa se prontificou a arranjar dinheiro se o caso fosse alguma dívida. Casemiro lembrou da colega de trabalho que a havia ofendido no ano anterior e sabia que Maria Helena era muito sensível a essas coisas.
- Calma gente! Eu estou bem. Pelo menos acho que estou... Só deve ter ficado alguma sequela no meu braço. Não consigo movê-lo.
Teka explodiu em gargalhadas.
- Seu braço está engessado por causa do tombo lá no bar. Acorda! Sua tonta!
O quarto irrompeu em gargalhadas bem no momento em que o médico de plantão entrou para sua ronda. A princípio ficou sério, mas quando soube da causa das risadas custou a se conter.
- Sou o médico que está acompanhando o seu caso. Roberto é meu nome. E amanhã você já poderá ir para casa. Deve ficar de repouso por pelo menos quinze dias e depois começar uma vida nova. Nada de estresse, comidas gordurosas, sedentarismo e exageros no trabalho.
- Certo doutor, vou me cuidar.
- Quero vê-la daqui a seis meses. Ok?
- Ok, doutor. Concordou Maria Helena, meia envergonhada, meia resoluta a mudar. O susto tinha sido grande e ela resolvera ter suas próprias opiniões.
Algum tempo depois...
Maria Helena passou a fazer yoga.
Trocou de emprego. Virou guia de turismo.
Faz inglês.
Começou a nadar e fez um curso de dança.
Saiu da casa da sogra onde morava...
Largou o marido.
Está com uma viagem marcada para a Itália no princípio do ano que vem.
As vezes ainda vai ao bar. No mesmo prédio onde antes trabalhava. Gosta de confraternizar com os antigos colegas e tomar uma cervejinha. Mas decididamente nunca mais pôs uma azeitona na boca.
Maria Helena acabava de tomar sua “latinha” de cerveja. Permanecia sentada na mesa do bar que ficava no térreo do prédio onde trabalhava. Já havia se passado cerca de quarenta minutos desde que chegara. Não que fosse amante inveterada de cerveja e muito menos de beber sozinha em um boteco de quinta categoria. O problema é que passava das nove horas da noite e nem o calor infernal e muito menos o trânsito diminuía. Maria Helena não queria dirigir até sua casa nesse trânsito maluco e por cima transpirando em bicas. Pediu mais uma cerveja...
- Vê também umas azeitonas e um pouco de salame - Estou roxa de fome - Pensou.
Deu um gole na cerveja que trincava de gelada. Chegou a arrepiar. Colocou uma fatia de salame na boca e mais um gole na cerveja. Olhou para a rua. Nada, o movimento de veículos só aumentava. Outro gole na cerveja e desta vez uma azeitona. Engasgou... Não conseguiu mais ver a rua. Despencou da cadeira e estatelou-se com força no chão encardido do bar. Tudo escureceu medonhamente e a dor dilacerava.
Quando Maria Helena acordou estava deitada em uma cama da Santa Casa de Misericórdia. Dois dias tinham se passado. O primeiro rosto que viu foi o de Casemiro. O marido estava pálido, cabelos em desalinho a camisa suja e cheirando a suor. Atrás dele viu Teka, a irmãzinha querida, completamente absorta em teclar o seu “iphone plus” de última geração. Ao virar o rosto viu, do outro lado do quarto, a mãe. Dona Rosa segurava um terço e uma bíblia na mão. Estranho... Pensou Maria Helena. Nunca soube que mamãe fosse carola.
Foi Dona Rosa a primeira a falar:
- Filha o que houve? Você está com algum problema? Conta pra gente...
- Foi no emprego? Quis saber Casemiro.
- Do que vocês estão falando? Interrompeu Maria Helena.
Teka tirou o fone do ouvido e interveio, era a única que parecia raciocinar naquele momento. Afastou a mãe e o cunhado de perto da cama e acalmou a irmã. Pelo menos era essa a intenção.
- Querida irmãzinha, lembra do bar onde você enchia a cara? Pois é. Ligaram de lá pois você capotou. Teve um AVC e já era...
- Como um AVC? Eu só tenho quarenta anos... E isso só dá em velho.
- Quarenta e sete “aninhos” queridinha, corrigiu Teka de forma zombeteira. E isso pode dar em qualquer idade. Principalmente em quem não se cuida.
Dona Rosa interveio querendo saber se a filha estava muito atarefada no serviço. O marido insistia em saber se o chefe dela aprontara alguma coisa. Dona Rosa se prontificou a arranjar dinheiro se o caso fosse alguma dívida. Casemiro lembrou da colega de trabalho que a havia ofendido no ano anterior e sabia que Maria Helena era muito sensível a essas coisas.
- Calma gente! Eu estou bem. Pelo menos acho que estou... Só deve ter ficado alguma sequela no meu braço. Não consigo movê-lo.
Teka explodiu em gargalhadas.
- Seu braço está engessado por causa do tombo lá no bar. Acorda! Sua tonta!
O quarto irrompeu em gargalhadas bem no momento em que o médico de plantão entrou para sua ronda. A princípio ficou sério, mas quando soube da causa das risadas custou a se conter.
- Sou o médico que está acompanhando o seu caso. Roberto é meu nome. E amanhã você já poderá ir para casa. Deve ficar de repouso por pelo menos quinze dias e depois começar uma vida nova. Nada de estresse, comidas gordurosas, sedentarismo e exageros no trabalho.
- Certo doutor, vou me cuidar.
- Quero vê-la daqui a seis meses. Ok?
- Ok, doutor. Concordou Maria Helena, meia envergonhada, meia resoluta a mudar. O susto tinha sido grande e ela resolvera ter suas próprias opiniões.
Algum tempo depois...
Maria Helena passou a fazer yoga.
Trocou de emprego. Virou guia de turismo.
Faz inglês.
Começou a nadar e fez um curso de dança.
Saiu da casa da sogra onde morava...
Largou o marido.
Está com uma viagem marcada para a Itália no princípio do ano que vem.
As vezes ainda vai ao bar. No mesmo prédio onde antes trabalhava. Gosta de confraternizar com os antigos colegas e tomar uma cervejinha. Mas decididamente nunca mais pôs uma azeitona na boca.