Pequena confusão em hotel europeu
Era a nossa quarta visita a Portugal. Desta vez uma expectativa a mais, visitaríamos algumas das cidades conhecidas como as Capitais Imperiais do Leste Europeu; Praga, Viena e Budapeste.
Deixamos Lisboa rumo a Praga em avião da Air Europa, companhia espanhola. Chegamos a Praga, capital da República Checa, pelo aeroporto de Ruzyne, depois de 3h20min de voo tranquilo. Já nos esperava a guia, que nos levaria ao hotel. Teríamos a companhia de turistas espanhóis, até Budapeste, pois todos os nossos passeios seriam realizados em ônibus super confortável e guia falando espanhol.
Na manhã do dia seguinte fizemos nosso primeiro city tour. Tivemos a preocupação de sentarmos nas duas primeiras poltronas, não queríamos perder visão privilegiada durante o passeio. Pensávamos que nos dias seguintes estas poltronas estariam sempre reservadas para nós, como acontece quando viajamos de ônibus pelo Brasil.
Praga é a maior cidade da República Checa, situada na margem do Rio Moldava. A cidade das “cem cúpulas”, como é conhecida, é um dos mais antigos e belos centros urbanos da Europa, famoso pelo patrimônio arquitetônico que ostenta e rica vida cultural. Uma das construções mais importantes é o Castelo de Praga, construído na colina Hradcany, servindo atualmente como a residência presidencial. Ao lado do castelo, ergue-se a catedral gótica de S. Vito e o Belvedere, em estilo renascentista. No bairro Malá Strana, visitamos a Igreja Nossa Senhora da Vitória. No seu interior está um tesouro visto e admirado por centenas de crentes todos os dias, a pequena estátua do Menino Jesus de Praga, conhecida como o Bambino di Praga.
Na praça de cidade velha encontra-se o relógio Astronômico Orloj, mostrando a posição do sol e da lua no céu e a Caminhada dos Apóstolos, show mecânico que indica a mudança de hora pelo aparecimento dos apóstolos e outras esculturas. Os turistas lotam a praça só para ver esse espetáculo, aplaudindo ao seu final
Em Praga assistimos a uma peça de teatro e entramos em uma igreja ortodoxa, para apreciar o ritual de uma missa. Passeamos pela Ponte Carlos, sobre o rio Moldava, ligando a Cidade Velha à Cidade Pequena. No período da tarde ela é invadida por multidão de nativos, turistas, artistas de rua e ambulantes. Trinta e seis imagens barrocas de santos ornamentam as suas muradas e a vista de ambos os lados é deslumbrante. O destaque é para o Castelo de Praga.
— O próximo passeio será à cidade de Karlovy Vary, acordem cedo, pois o ônibus sairá às 9h30min, o café deverá ser tomado até as 9 horas, avisou a nossa guia ao término do passeio do primeiro dia.
No outro dia, logo cedo, fomos rápidos, levantamos às 8 horas, fizemos nosso desjejum e rapidamente procuramos o ônibus. Qual a nossa surpresa já havia um casal sentado em nosso (?) lugar. Não nos preocupamos com isso, pois estávamos em ambiente estranho. Éramos minoria, somente eu e minha esposa não éramos espanhóis.
Karlovy Vary, distante 126 km de Praga, é uma cidade termal, rica, linda e destino para muitas celebridades. É conhecida pelo seu Festival Internacional de Cinema e também pelo seu famoso licor Karlovarská Becherovka, cuja receita, que leva trinta ingredientes em sua fórmula, só é conhecida por duas pessoas. É também a cidade dos cristais da marca Moser e um dos mais cobiçados cristais de decoração.
Nosso retorno se deu às 18 horas, com chegada em Praga às 20 horas, fomos direto para o hotel, pois na manhã seguinte tomaríamos o rumo de Viena, Áustria.
Novamente tentamos ser rápidos, mas ao chegarmos ao ônibus, percebemos que o senhor que tomara a nossa frente no dia anterior lá já se encontrava. Estranhamos, pois toda a sua família ainda se encontrava no restaurante, quando de lá saímos. O mais estranho ainda é que ele havia reservado as duas primeiras filas de poltronas, colocando casacos e bolsas de seus familiares. Ficamos na nossa, o espanhol era mais rápido do que nós.
Viena é um dos nove estados austríacos e a maior cidade da União Europeia. É também a segunda maior cidade de língua alemã, depois de Berlim. Em Viena estão estabelecidas várias organizações internacionais, entre elas uma das quatro sedes das Organização das Nações Unidas e Agência Internacional de Energia Atômica.
Visitamos o suntuoso Palácio de Schönbrun, o Palácio Hofburg, Palácio Belvedere (Schloss Belvedere) e o centro histórico da cidade, constituído de inúmeras igrejas, palácios e parques. Navegamos pelo rio Danúbio.
A maior parte das Joias da Coroa Austríaca, também conhecida como Tesouro Imperial, está em exposição no Schatzkammer (Casa do Tesouro), localizado no Palácio Imperial de Inverno em Viena (Palácio Hofburg). Tesouro riquíssimo, que nos deixou deslumbrado, pela beleza e conservação das peças expostas. No palácio de inverno da Imperatriz Sissi, é possível ver louças magníficas da época, seus vestidos, joias lindas e raras e muito ouro. Visitamos os Apartamentos Imperiais (Kaiser-Appartments), de suntuosas acomodações.
Depois de passarmos dois dias em Viena, viajamos para Budapeste, a sexta maior cidade da União Europeia. Às margens do rio Danúbio ela é considerada uma das cidades mais belas da Europa e um dos maiores destinos turísticos do mundo. A parte da cidade denominada Pest, está situada na região plana da Grande Planície, enquanto a região denominada Buda é bastante montanhosa. Budapeste, capital da Hungria, é a única capital nacional no mundo que possui águas termais. A cidade conta com mais de 125 nascentes, com temperaturas alcançando até 58ºC. Algumas dessas águas têm efeitos medicinais. Fomos levados para uma dessas termas e bebemos sua água.
Nosso passeio constou de visita ao Castelo de Buda, à Avenida Andrássy, Praça dos Heróis, o Parlamento de Budapeste, onde se reúne a Assembleia Nacional da Hungria, um dos edifícios legislativos mais antigos da Europa, que constitui notável exemplo paisagístico da Hungria e destino muito popular em Budapeste. O belo prédio do Parlamento ergue-se na Praça Kossuth Lajos, na margem do Danúbio. Passeamos pela Ponte Széchenyi Lánchíd que atravessa o rio Danúbio entre Buda e Peste.
Foi uma viagem maravilhosa. Tivemos a oportunidade de ampliar nossos conhecimentos históricos a cerca das cidades visitadas, sua cultura, seu povo e nos deslumbrar com tudo que há de belo naquela parte do continente europeu.
O retorno para Lisboa foi a partir de Budapeste. Deixamos o hotel às 18 horas, o embarque seria às 20 horas. O Aeroporto internacional de Budapeste Liszt Ferenc estava lotado, muita confusão para o chek in. Durante a espera para o embarque encontramos duas senhoras portuguesas, conversamos sobre literatura, contos, poesias. Elas disseram que gostavam de ler e participavam de reuniões literárias. Citaram um escritor japonês muito apreciado por uma dela, que em seus contos, alguns personagens desapareciam sem deixar rastro, ela achava muito estranho estes acontecimentos sem explicação. Conversamos até a hora do embarque, quando nos despedimos. Deixei com elas o meu endereço de email, para posterior comunicação. Elas nos convidaram para participar de um sarau de literatura, a acontecer em Oeiras, que fica próximo a Carcavelos, local de nossa hospedagem em Portugal.
Durante os primeiros minutos de voo, tudo corria tranquilamente. Eu e minha esposa conversávamos sobre as cidades que visitamos, tínhamos opiniões diferentes quanto a mais fascinante, a mais aconchegante, a mais alegre etc.
Olhando pela janela, minha esposa percebeu que o avião estava retornando ao aeroporto de Budapeste e falou:
— Acho que alguma coisa está acontecendo, estou percebendo as luzes da cidade novamente.
— Deve ser outra cidade, disse-lhe, para deixá-la tranquila.
Logo o comandante da aeronave informou que estávamos voltando para Budapeste, justificando problemas técnicos.
Depois de muita espera, fomos levados de volta ao hotel. Na recepção nos entregaram novo cartão de acesso a outro apartamento. Para as duas amigas portuguesas informamos o número desse apartamento, para o caso de algum problema.
Depois de algumas tentativas para abrir a porta do apartamento, alguém de dentro abriu a porta e em uma língua que não identifiquei nos reprovou bruscamente. Voltamos à recepção do hotel e nos deram outro cartão. Já passavam das 4 horas da manhã. Finalmente fomos dormir. Sabíamos que seriamos acordados quando o pessoal da Air Europa viesse apanhar os outros passageiros. Não havia horário previsto para o conserto da aeronave.
Às 10h30min da manhã acordamos assustados. Procuramos saber o horário do café e fomos informados que já estava encerrado. Descemos apressadamente e verificamos que não havia mais nenhum passageiro do nosso voo. Felizmente encontramos um casal que nos informou que todos já haviam ido para o aeroporto, que o embarque se daria às 12 horas. O casal nos convidou para irmos com eles, pois embarcariam no mesmo horário.
Chegando ao aeroporto, novo chek in, nova confusão, muita gente para embarcar. Encontramos as nossas amigas portuguesas, que se diziam aflitas:
— Procuramos por vocês a manhã toda. Fomos ao restaurante e vocês não estavam lá. Procuramos no saguão do hotel. Na recepção nos informaram que vocês tinham deixado o hotel às 7 horas. Falamos que isso não poderia ter acontecido, vocês eram passageiros do mesmo voo nosso. Pedimos para telefonarem para o número apartamento que vocês nos deram, ninguém atendia.
As duas senhoras estiveram realmente preocupadas com o nosso desaparecimento. Só que elas não sabiam que havíamos trocado de apartamento, e pelo jeito nem mesmo a recepção do hotel sabia.
— Queremos agradecer à preocupação de vocês. Só que não foi possível avisar, era muito tarde e não encontramos ninguém do nosso voo ao trocarmos o cartão.
Sorrindo, elas disseram:
— Nós até pensamos que vocês haviam sido abduzidos, como os personagens dos contos do escritor japonês.
Todos nós fomos rindo a caminho do novo embarque. Alguns passageiros preocupados porque o problema técnico anunciado pelo comandante da aeronave tinha sido uma peça com defeito, que teve de vir de Lisboa. Alguns não tiveram coragem de viajar nesse voo. Depois de quase 3 horas o avião pousou tranquilo no Aeroporto de Lisboa.
Desta viagem nos restaram boas lembranças!
Gilberto Carvalho Pereira
Fortaleza (CE), junho de 2012