Tempo.

O garoto, apoiado no balcão da sala, pensava sobre a sua vida, seus afetos, o que lhe deixava feliz e o que lhe entristecia. Lembrou sobre os romances que teve durante o ano que já se escapara das suas mãos. Nenhum havia dado certo, ao ponto que, se tivesse dado, não haveria porque lembrar deles. Portanto, deu-se conta: a lembrança é algo que se refaz no presente sobre algo que se passou no passado. Então, não deve existir um passado verdadeiro, porque sempre que ele tenta se lembrar sobre algo que já se passou, este ocorre sempre no presente do lembrar - com todos os seus instantâneos sentimentos.

Até aí tudo bem. Então avançou mais: com o futuro é a mesma coisa, portanto.

Depois tentou imaginar por que evocar passado e futuro no instante. E se deu conta que, todas as vezes que ele parou para pensar no que já se passou ou no que ainda não ocorreu, foi uma forma de tentar se deslocar do presente por algum problema que sentia no momento: algo que não queria pensar, ou porque estava se sentindo solitário e queria pensar em coisas boas.

O problema com essas pequenas epifanias, era que quanto mais se lembrava sobre momentos em que ele simplesmente parou de pensar no que se passava no presente para pensar sobre isso, mais parecia que em quase todas as vezes que ele saia, ou ia a escola, ou mesmo quando encontrava-se com alguns amigos, em nenhum desses momentos ele soube apreciar o instante em si. Às vezes por timidez, às vezes por não saber reagir com o que se passava.

O problema é que sempre que ele fugia do presente, deixava também de apreciar o que a vida mais tem de bonito: a virgindade dos encontros com o mundo.

Com um sorriso no rosto de quem comeu arroz-doce e gostou, decidiu para si mesmo: a partir de agora tentarei viver o presente de modo a estar presente; não recorrerei a remédios psíquicos outra vez.

Leonardo Nascimento
Enviado por Leonardo Nascimento em 06/05/2015
Reeditado em 06/05/2015
Código do texto: T5232649
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.