O GUIA TURÍSTICO
Conto de Gustavo do Carmo.
— O Maracanã você conhece, né? Quem não conhece o Maracanã?
— Claro que eu conheço.
— Pois é. Foi inaugurado em 16 de junho de 1950 para a Copa do Mundo e um mês depois testemunhou uma das maiores tragédias do esporte brasileiro, quando o Brasil perdeu de virada para o Uruguai.
— (...)
— Você sabia que antes do estádio existia um hipódromo no seu terreno?
— Não.
— Era o Derby Clube.
— Legal.
— Aquele ali é o Campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aqui havia uma grande favela, a chamada Favela do Esqueleto. Foi formada pelos operários que construíram o Maracanã. Aí veio o Lacerda e mandou remover tudo para construir a faculdade.
— Hoje não se pode fazer mais isso, né? Favela rende votos. Por isso que as favelas estão crescendo.
— Tem razão. Esta é a Rua São Francisco Xavier. Aquele ali é o Colégio Pedro II. Depois, o Colégio Militar.
(...)
— Agora estamos passando pela Igreja de São Francisco Xavier e, mais à frente, o Teatro Ziembinski. Sabe quem foi Ziembinski?
— Já ouvi falar, mas não lembro dele.
— Foi um grande diretor de teatro. Ator, também. Montou algumas peças do Nelson Rodrigues, como Vestido de Noiva. Ainda atuou em algumas novelas e no cinema. Ele era polonês, tinha uma cara de mama italiana. Fez até papel de mulher por causa disso. Já é falecido há mais de trinta anos.
— Não lembro.
— Aqui é o Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro.
(...)
— Chegamos à Praça Saens Pena. Aqui nas redondezas existia uma fábrica de chitas. Aí, quando ela fechou, decidiram revitalizá-la. Batizaram a praça com o sobrenome de um presidente argentino. Esta rua passou a ser chamada de Conde de Bonfim, que era o proprietário de todos esses terrenos. Os cinemas começaram a chegar nos anos vinte e três décadas depois esta região já tinha mais cinemas que a Cinelândia, no centro da cidade.
— É mesmo? Mas eu não estou vendo cinema nenhum.
— Acabaram-se todos. Mas, pela arquitetura, dá para notar alguns. Onde tem essa farmácia com a fachada vermelha era o América. Nesta igreja evangélica ficava o Carioca. Ainda tinha o Olinda, que foi demolido. Mais à frente, no lugar dessa loja de departamentos havia o Metro Tijuca. Ali atrás, no lugar daquela farmácia de fachada branca, tinha o Café Palheta, um ótimo restaurante, no qual o pessoal lanchava depois de sair do cinema. Os salgados eram ótimos. A lanchonete ainda existe, mas se limita apenas a um balcão dentro da farmácia.
— Que pena, né?
(...)
— Estamos entrando na Rua Haddock Lobo, que foi um vereador muito importante para a cidade. E aqui é o chamado Largo da Segunda-Feira.
— (...)
— Sabe por que essa pequena praça tem esse nome?
— Não.
— É que aqui foi encontrado o corpo de um homem assassinado misteriosamente em uma segunda-feira e, por isso, passaram a chamar o largo assim.
Meia hora depois, passando pela Rua Maracanã, o grandioso estádio de futebol aparecia novamente no caminho do táxi que levava o turista paulistano. Sem graça, o motorista repetia a informação que dera há uma hora atrás.
— O Maracanã você conhece, né? Quem não conhece o...
— Ô meu! Já é a quinta vez que você passa por aqui e fala isso. O taxímetro já está marrcando 120 reais. Por que não diga logo que está perrdido e que não sabe me levar para a Barra da Tijuca? Vai ficar me dando volta, meu? Pára no próximo farol que eu vou estar descendo e tomo outro taxi. Toma 50 reais pelas informações turísticas.