Filosofia De Vida
Eu tenho uma filosofia de vida que 70% das coisas tendem a dar errado. Uma prova disso é que: 1° - É bem mais fácil destruir do que construir; 2° - Existe mais gente morta do que viva e 3° - Você já levou mais “pés na bunda” do que um “sim” de muitas mulheres. Essa porcentagem apenas diminui quando você é rico, bonito e inteligente. A porcentagem caí para 50%. Mas como eu não sou os três, e você também não deve ser, continuamos nos 50%.
Aos 21 anos de idade, cabelos loiros, um rosto arredondado e um bom corpo, não digno de modelo, mas abençoada com grandes pares de coxas e bundas. Essa era Gabriela, que estivera sempre em busca do seu amor, mas nunca se sentia satisfeita com nenhum que já tivera aparecido. Era uma garota caseira, ajudava sua mãe em casa, cuidava de seu irmão mais novo, não estudava e também não trabalhava, era uma pessoa sem ambições e sem fome de viver.
Com 17 anos, cabelo raspado na lateral, pintado de verde, bissexual, sempre tragando um cigarro, essa é Natalia. Pixava paredes a noite, visitava a todas as baladas de sua cidade, já tivera experimentado todos os tipos de drogas, queria o mundo na palma da sua mão.
Gabriela e Natalia moravam na mesma cidade, e apenas 5 km as separavam. Idade é sinônimo de experiência? Besteira. Aos 13 anos, Natalia já tivera feito muita coisa que Gabriela ainda não fez.
21 de Outubro de 2010, Quinta-Feira.
- Mãe, minha amiga fará uma festa de aniversário no sábado. E ela me chamou para ir. Disse Gabriela.
- Onde? Que horas?
- Vai ser no centro da cidade, vai começar por volta das 20h00, é aniversário da Melissa.
- Tudo bem mas eu vou te buscar. Disse a mãe de Gabriela.
Embora Gabriela tivesse 21 anos, ela ainda era muito dependente de seus pais, e eles não aceitavam muito bem quando a filha dizia que iria sair sozinha, nem que fosse para ir ao mercado na rua de baixo, imagine então no centro da cidade a noite.
- Mãe! Que vergonha, eu tenho 21 anos. Gabriela gritou. – Eu volto com minhas amigas, não precisa se preocupar.
Gabriela estava exausta e essa era uma chance de fugir de sua rotina entediante.
Coincidentemente Melissa também era amiga de Natalia, e a chamou para sua festa.
- Alô? Respondeu Natalia.
- Oi Natalia, é a Melissa, tudo bem por aí?
- Estou bem. Aconteceu alguma coisa? Respondeu Natalia preocupada.
- Não, só estou ligando para avisar que sábado a noite eu vou dar uma festa lá no centro, queria que você aparecesse.
- Tudo bem, eu apareço sim, precisamos conversar, já faz um tempo. Disse Natalia. – Que horas vai ser?
- Aparece lá por volta das 20h00, te espero lá amiga.
- Combinado. Disse Natalia animada.
23 de Outubro de 2010, Sábado.
Naquela noite as duas estavam lá, e inclusive eu. Natalia estava na mesma de sempre; dançando no meio da pista com sua namorada, um cigarro aceso no meio dos dedos, como se fosse um dia qualquer. Gabriela estava extravasando, já tinha bebido algumas doses e estava realmente bêbada. Era uma noite especial para Gabriela, estava se sentindo poderosa e tinha fome de viver.
Por volta das 03h00 da manhã, a história começava a tomar um rumo. Eu como um bom mulherengo, avistei a garota mais linda que eu já tinha visto na minha vida, talvez porque eu já estava bêbado. Me aproximei sem ao menos prestar atenção se havia quaisquer aliança nos dedos, ou se já estava acompanhada na festa. Quando cheguei a tal garota, não disse uma única palavra, só fiquei lá parado, observando aquela beleza surreal; cabelos ruivos ao ombro, um óculos que valorizava seu rosto e os lábios mais carnudos que já vi. Beijei. Simples assim, e ela me beijou de volta, o que foi demais. Quando estávamos começando a trocar carícias pelo corpo, ouvi um barulho ensurdecedor, quando me virei, havia um homem apontando uma arma para mim, até hoje não sei ao certo, mas deduzi que era o namorado da tal ruiva. “Vou morrer” Pensei comigo mesmo enquanto me preparava para correr para o meio da multidão agitada. O tiro ainda ecoava no salão, o que deixou a situação ainda pior. Quando já estava dentro da multidão, tirei a camiseta para o sujeito não me conhecer e a joguei no chão. Quando cheguei à porta de saída e senti aquele ar frio, pensei “Estou realmente vivo e não levei um tiro”. Assim que saí do salão, vi um carro vermelho freando, no volante estava Natalia, no banco do passageiro sua namorada. Natalia chamou Melissa para sair do meio da bagunça, e Melissa chamou Gabriela para ir junto. E com as quatro meninas dentro do carro, Natalia deu a arrancada cantando pneu. E eu... Bem, eu sobrevivi.
Dentro do carro, as quatro estavam bêbadas, e a única que sabia dirigir era Natalia. Com todas essas vidas dentro do carro, Natalia sentiu-se pressionada para tirá-las daquele lugar.
- Vai mais devagar. Gritou Melissa
Natalia não respondeu e continuou indo mais rápido e fazendo curvas bruscas, Gabriela estava tão chapada que não estava entendendo nada e só gritava dentro do carro.
- Cala a boca porra! Disse Natalia olhando para trás.
Quando voltou a cabeça pra frente, estava de encontro a um carro em alta velocidade. Todas estavam sem cinto de segurança.
Quando soube do acontecido, pensei comigo “deu tudo errado ontem”. Os 70% de chances das coisas darem errado fez jus a minha filosofia; todas estavam mortas. Só não sabia ainda porque eu não estava morto também, talvez a arma tenha travado, ou o rapaz errou o tiro e acertou outra pessoa (seria trágico), ou alguém o segurou antes de disparar a arma. A única coisa que eu sei é que estou vivo, e que talvez minha filosofia de vida tenha me salvado.