A QUEM PERTENCE O AMANHÃ?
Aproximou-se do balcão, meio temeroso, quase engolindo as palavras e,acostumado a sequer ser ouvido, com certeza, já haveria desistido, não fosse a esperança duma última tentativa.
-Por favor, eu gostaria...
-Senhor, eu já não lhe pedi que aguardasse a sua vez?
-Mas eu estou tentando há dias...
“Nessa vida, parece que o tempo nunca é suficiente mesmo...”
-Olha, por gentileza eu...
-Já não lhe falei que tem que esperar, senhor?
-Mas...eu só queria uma palavrinha com o médico...
-Hoje sem tempo, sem vagas...só amanhã!
“A tal da moça não sabia que nessa vida, os amanhãs também são contados.Poucos aprendem a lição a tempo,mas como aquele homem já a tinha aprendido...insistiu mais um pouco.”
-Não...não é consulta não, moça!
-Senhor, o médico aqui só faz consulta.Se não é consulta o quê que é, então?
Meio sem graça, o homem tirou do bolso uma azaléia amarrotada, arrancada da terra com uma ínfima raiz.
-Por favor, entrega essa mudinha para a doutora Ana. Prometi a ela.Mais um dia aqui no meu bolso, e não voltará a terra.
E eu , que por acaso ali passava,pude testemunhar o império do tempo,que na incongruência da pressa, poda até o amanhã das flores...
“Conto Verídico”