Pois o que tiver que ser... será?
“O que for para ser, será”
Logo que essa frase chega aos meus ouvidos, sinto calafrios. Desentendido, observo a moça saindo do salão de beleza do outro lado da rua. Do alto do meu baixo apartamento no 4º andar, vejo a moça que anda saltitando e, distraída com o belo cabelo ao vento – que aos seus olhos deveria estar mais que especial – não olhou para os dois lados da rua.
Vrum
Uma motocicleta passou a centímetros dela. Com um pulo para trás, desviou-se; o motoqueiro nem se dando ao trabalho de verificar-lhe a integridade física. Ao lado, um rapaz que vinha pelo passeio, pegou-se segurando-lhe a mão. Você está bem, estou, etc. Dali os dois saíram juntos, sumindo da minha vista, absortos em sua conversa fiada e banhada em flertes.
Ok, mas e se por acaso a moça não tivesse ficado distraída com o próprio cabelo? E se tivesse ficado dois segundos a mais do lado de dentro, batendo papo com a cabeleireira? Ou se ela nem tivesse ido àquele lugar naquele dia? Ou o rapaz? E se? Por acaso?
E se por acaso eu e você estivéssemos separados? Se naquele dia tivéssemos tomado a temida e tão palpável decisão? E se eu tivesse me rendido com as tentativas frustradas de nós dois há tempos, quando percebi a batalha perdida?
Será que eu teria ido a um barbeiro, bar, cinema, supermercado à meia-noite. Será que quase teria sido atropelado e outra pessoa poderia ter-me salvo, o garçom poderia ter trocado nossos pratos, eu poderia sentar-me ao lado da poltrona dela e rido da mesma piada sem graça, ter ido à mesma seção de chocolate suíço com sal marinho e termos estranhamente nos identificado?
O que tiver que ser, será? E se por acaso o que será não tiver que ser, mas for mesmo assim?