A MENINA E A SOMBRA
A MENINA E A SOMBRA
Amenina e a Sombra
Brisa, uma menina corajosa, sempre fazia o mesmo caminho de ida e volta para escola. Nesse dia preparava uma tempestade ela andava apressada e as vezes corria,corria, cansava um pouco e prosseguia.
Lá na curva do rio uma correnteza muito forte, fazia com que o pescador Luis remasse com excessivo vigor sua canoa contra as turbulentas águas que mais parecia vencê-lo. Exausto, recolheu o seu remo ao barco deixando-o à deriva. O barco rodopiava em redemoinho nas águas e ele de pé no piloto da canoa, como uma estátua, joga para detrás de sua cabeça seu enorme chapéu de palha, que mais se parecia a carapaça da tartaruga ninja.
Caia a tarde como flecha e a menina ainda apavorada continuava a correr. Seus olhos, esbugalhados, contemplavam a sombra que o manto negro sem estrelas teimava em persegui-la. Era uma sombra que parecia ter vida. Não era noite ainda, aquela sombra queria tragá-la e assustadoramente se aproximava. O Rasanteios das corujas fazendo aquelas incursões, pisca-pisca dos vaga-lumes indicavam que era noite mas sabidamente não era.
O latido de Sansão ecoava longe. Cachorro forte, valente que sabia caçar raposa, seriema e porco do mato.
O caminho parecia mais distante do que de costume, a menina valente pela primeira vez estava assustada, aquele monstro como visagem da noite macabra a rastreava. Ela já havia dado prova de sua coragem uma vez quando o gato grande e rajado miava quase como uma onça pintada: miiauu, miauu, miauu, ao derredor da casa. Ela com o chicote de couro cru, deixou o travesseiro, saltou da rede e massageou o lombo do comedor de toucinho com uma vara de marmelo, o que de num salto mortal próprio dos felinos, emitiu mais um forte: miauuuu... e deitou o pelo em desabalada correria para o morro grande, que ficava próximo.
No caminho tinha um cruzeiro, e quem tem medo de cruz, ali, porém não era uma simples cruz que fazia medo, mas sim os acontecimentos em volta dela. Ao derredor da velha cruz costumava-se enterrar os nonatos, os pagãos, aquelas inocentes que morriam antes de serem batizadas na Igreja. Aqueles dedos e mãos esticados, olhos abertos, velas por todos os lados, exalando cheiro de morte, assombração. Muitos diziam que ao passar por ali ouvia-se muito choro de criançinhas.
A estrada margeava uma cerca de ramos, já velha, muita palha lhe fazia o rodapé e o enorme lajedo era referência de uma curva de quase noventa graus. Quando virou aquela curva, o bote que já estava preparado, foi seguido de “valha-me Deus” e no mesmo instante por cima da corajosa Brisa, o sansão que sutilmente a seguia rosnou: rooon, enfrentando aquele monstro que não esperava reação. O bicho caiu na caatinga fechada, deixando entretanto, ali no chão Sansão machucado. A pequena Brisa tomando-o em seus braços conduziu. Não dava mais para enxergar o destino do remador, no dia seguinte foi sabido trata-se Luiz de Ananias o homem mais calmo que já se viu naquelas bandas, que para não brigar contra a correnteza deixou-se levar pela corredeira da cachoeira do Santo Amaro, indo encalhar mais abaixo na Ilha dos cajueiros, aonde tinha também ali uma bela roça de mandioca e melancia .
A chuva do entardecer que se havia preparado deu um tom de negritude no céu, que apareceram as estrelas.
Assopraram os ventos leste, e aquele longo entardecer adentrou na noite.
Começava amanhecer o dia. E já se ouviam as vozes dos vaqueiros conversando com as vacas no curral:” raia,raia. Sai daí o pintada, vaca morxa vai pra lá.”
Os pastos estavam verdes e os umbuzeiros estavam carregados, a babugem enfeitava com flores multicores multicoloridas a frente da varanda da casa da roça. De manhã Sansão estava ali arrodeando as ovelhas, o canoeiros estava passando com suas redes e terrafas, sombras foram fruto da imaginação e nem ali era o caminho da escola. Nem ela morava na roça, mas, na cidade grande e ia de carro para escola, sonhou.
Ali sem angustia, sem o estress da vida da cidade, a fizera sonhar.
NATINHO SILVA