O MENDIGO DA AV. RODRIGUES ALVES / SP

Profeta do Caos? Profeta no caos? Poeta? Vítima do Caos? Quantos degraus nos separam? Eu da insanidade, você da sanidade? Você da insanidade? Quem és? De onde vieste? Dia e noite escrevendo? Folhas e mais folhas de papel? Nem o frio, nem a chuva, jamais te fizeram parar? Sob o sól, sob a lua? De onde vem tanto papel, tanta caneta? O que comes? Quem te provê? Serei eu o insano? Estamos no olho do furacão que tu descreves? Há furacão? Há olho? Tem alguém aí?

Todos passam? Muitos todo dia? Várias vezes ao dia? Todos olham? Quase ninguém vê? Uma das grandes sutilezas da vida, a diferença entre olhar e ver? Estás a decifrar o caos a tua volta, a descrever a primavera, as mudanças de estação? Quantas folhas caem no outono? Vês a quantidade e os tipos de automóveis ou o tempo do casulo? E a moda que podes ver, entrecortada, emoldurada pelos carros? Os rostos, as faces, os dramas? Quantas putas, quantas damas? Os ternos, as gravatas, os bacanas? As pessoas mundanas? Insanidades verdadeiras ou verdades insanas? E o tempo? Passa? Você tem passado? Temos futuro, sabendo você presente?