O barqueiro

O barco pintado de azul, vinha descendo o rio, e ainda faltavam muitas léguas para chegar ao mar, mas, isto não importava ao barqueiro, ele não ia mesmo até lá.Sua vida era mesmo por aquelas bandas, subia e descia o rio, vidinha simples de pescador que, jamais fora alem daquelas plagas.Gente simples, nasce e morre sempre por perto.As vezes, ele pensava em outros lugares que sabia existir, mas que não tinha vontade de conhecer.Aquele era o rio de sua vida , um rio, quase sempre tranquilo, as margens não muito distantes, quase se cumprimentando...lugar de bons peixes, a base da alimentação do povo ribeirinho.

Ele amava o seu rio, nascera e crescera tomando banho naquelas águas sempre renovadas, mas, para ele, as amigas de sempre.Conhecia muito bem o jeitão dele.Era como alguém da sua família .Ele não podia entender,como o seu mano mais moço, se fora dali, deixando tudo pelo desconhecido lá fora.Ele sempre falava que um dia partiria e foi o que fez.Queria conhecer outros lugares, viver outra vida, amar mulheres que não levassem nos olhos a sombra do rio.Mandava notícias, isso de vez em quando, falava da cidade grande, das casas altas como poleiro de pombos , contava das mulheres bonitas de traseiro de fora.Chegara a dizer que andava, todos os dias, para ir trabalhar, em um trem que ia por debaixo da terra.

O barqueiro ficava angustiado pensando no tal trem, janelas fechadas, sem ver nada alem delas.Não, ali no rio é que era bom!Passava perto das arvores enormes, e podia se ver as parasitas floridas presas nos troncos centenários.E o canto das aves?Com as penas coloridas, cada uma cantando do jeito que Deus deu, e ele, podia , pelo canto saber como eram.E os peixes?Em quantidade , nadando entre as plantas aquáticas .Ele nunca pescara de rede, achava uma judiaria, tinha uma boa vara, fé e isso lhe bastava. Ele respeitava o rio, temia as histórias que contavam, assim como da mãe-d'água, que encantava os viventes e os levavam para morar com ela no fundo do rio.Ele, todos os dias, saudava o povo da mata, e podia jurar que já vira coisas que contavam não existir.Ele sempre fora um homem crente em Deus, e levava a sua vidinha dentro das normas ensinadas pelos que chegaram antes dele.A vida de barqueiro não era fácil.

Quando havia chuva pesada, as águas ficavam escuras , refletindo o céu cor de chumbo, e o rio corria então, bem de pressa, como em busca da calmaria que estava acostumado.Fora esses tempos, sua vida era tranquila, não era homem de gostar de pinga, a maldita só trazia dor.Ele não esquecia o Rubão, um caboclo criado junto , mas que se perdera na bebida.Ela acabou com o Rubão.Só encontraram ele, dias depois, lá no fundo do grotão, preso nos galhos e troncos caídos.As vezes, ele ainda sonhava com o amigo, barriga inchada, e olhos arregalados, sem brilho.Fora essas lembranças, suas vida era muito boa.arrumada do jeito que queria.Mulher amiga, esperando em casa com a boia na mesa, e o amor na cama.Os meninos crescendo, indo estudar, todos os dias , na vila ali pertinho.Ano entrando, ano saindo ,ele navegando no seu barquinho azul.Sua casa caiada, com papel cortado em bico na prateleira da cozinha, o cortinado do jirau preso com fita em cima, a estampa de Jesus na parede...para que mais?

lucia verdussen
Enviado por lucia verdussen em 03/04/2015
Código do texto: T5193432
Classificação de conteúdo: seguro