Um longo dia
Ao resolver escrever sobre o ocorrido, tive uma dúvida: começo pelo início dos fatos ou pelo desfecho trágico. Optei pelo final: Josias foi morto pela polícia. Não havia saída. Naquele dia nada o favoreceu. Então veio o desfecho, a morte.
Tudo durou um único dia. Segunda-feira, trem lotado. Ocorreu uma pane. Os passageiros revoltados iniciaram a depredação. Josias não queria tomar parte. Estava apenas próximo. Levou uma pancada de um dos seguranças. Não teve tempo de se defender. Gritou. Foi o primeiro grito de muitos no mesmo dia. Partiu para cima do segurança, derrubando-o com um único soco. O homem desmaiou.
- Caramba véio como você é forte - alguém disse - agora corre que lá vem a polícia.
Antes de poder pensar qualquer coisa, viu gente vindo em sua direção, correndo e aos gritos:
- Pega, ladrão, assassino!
- Eu? Não...
Correu, conseguiu chegar até uma estação de Metrô. Entrou no vagão apressado. Pisou no pé de um dos passageiros, empurrou outro e quase derrubou uma senhora. Foi agredido. Apanhou e foi jogado na estação, assim que o trem parou. Levantou-se e procurou a saída.
- Que dia meu Deus! Nem terminou a frase, foi abordado por dois drogados, que lhe pediram dinheiro.
- Não tenho. Vão procurar outro ou quem sabe um emprego? Frase infeliz. Foi o suficiente. Outra confusão. Correu e outros drogados o perseguiram, pois os dois primeiros disseram que ele havia prometido droga, pegou e dinheiro e não deu a mercadoria. De novo teve de correr muito. Já não aguentava mais. Foi salvo por um segurança de uma empresa que o deixou entrar no prédio. Mal sabia ele.
- Muito obrigado amigo. Acho que estou vivendo o pior dia de minha vida. Posso ir ao banheiro?
- Final do corredor. Não demore que o meu turno está quase terminando.
Josias teve uma vertigem e desmaiou. O segurança recebeu um telefonema de casa: filho doente. Deixou um colega em seu lugar, esquecendo do azarado Josias.
Nosso infeliz personagem foi encontrado desmaiado e ficou sob a suspeita de estar ali para assaltar o lugar.
- Vamos chamar a polícia. Ninguém conhece o sujeito.
- Ele está machucado, disse Marilda, a moça do café. Eu acho que conheço ele. Veio me ver.
Marilda estava mentindo, mas teve dó do desamparo do rapaz.
- Levo ele até o Pronto Socorro. Já estou indo para casa. Não custa nada...
Os responsáveis pela empresa não acreditaram muito na história da moça, mas acharam que esta solução era a melhor. Não queriam o nome da instituição no noticiário policial.
Houve o atendimento no P.S. e ambos foram para casa da moça.
- Faço rapidinho um almoço para nós. Já são mais de duas horas da tarde.
Josias dormiu, almoçou e teve o corpo de Marilda como sobremesa.
Alguém abriu o portão da humilde casa. Marilda estremeceu. Era o marido que chegara antes da hora.
- Suma daqui, meu marido chegou.
O rapaz pegou as roupas e fugiu pelos fundos da casa. Pulando o muro. Colocou o restante das roupas já na rua, observado por uma velhinha que cuidava do jardim e por algumas câmeras de segurança.
“Estou sem dinheiro”, pensou, vou ao banco. Dirigiu-se a um dos caixas eletrônicos. Sacou uma pequena quantia e já ia saindo do banco, quando ouviu uma gritaria e viu gente correndo. Era um assalto. Voltou instintivamente para o interior do banco. Tornou-se refém dos ladrões.
Negociações entre a polícia e os assaltantes . Resolveram render-se.
- Troque de camisa comigo, disse um dos envolvidos no assalto. Josias assim o fez. O homem que trocara de camisa com Josias saiu junto com os reféns.
Ao sair nosso infeliz herói foi recebido aos gritos pelos policiais que cercavam o banco. Teve sua última decisão desastrada: sacou a carteira para se identificar. Tomou dois tiros no peito e morreu a caminho do hospital.
Noticiário local: “um homem suspeito de várias ações, foi morto esta tarde na Capital. Josias da Silva foi flagrado por câmeras de segurança em uma estação de trens participando de depredações e agredindo um segurança. Em seguida no Metrô onde foi expulso de um dos vagões por tentar molestar uma passageira. Novas imagens mostram o homem passando pela cracolândia envolvido em nova confusão. Invadiu uma empresa no Centro e sequestrou uma funcionária, obrigando-a a ir com ele ao P.S. e posteriormente para sua casa. Parece que houve estupro. Uma testemunha afirma que viu o rapaz pulando o muro de uma das casas. Por fim participou de um fracassado assalto a um banco, onde foi morto pela polícia, após um suposto enfrentamento. Os policiais disseram que ele estava armado”.
Ao resolver escrever sobre o ocorrido, tive uma dúvida: começo pelo início dos fatos ou pelo desfecho trágico. Optei pelo final: Josias foi morto pela polícia. Não havia saída. Naquele dia nada o favoreceu. Então veio o desfecho, a morte.
Tudo durou um único dia. Segunda-feira, trem lotado. Ocorreu uma pane. Os passageiros revoltados iniciaram a depredação. Josias não queria tomar parte. Estava apenas próximo. Levou uma pancada de um dos seguranças. Não teve tempo de se defender. Gritou. Foi o primeiro grito de muitos no mesmo dia. Partiu para cima do segurança, derrubando-o com um único soco. O homem desmaiou.
- Caramba véio como você é forte - alguém disse - agora corre que lá vem a polícia.
Antes de poder pensar qualquer coisa, viu gente vindo em sua direção, correndo e aos gritos:
- Pega, ladrão, assassino!
- Eu? Não...
Correu, conseguiu chegar até uma estação de Metrô. Entrou no vagão apressado. Pisou no pé de um dos passageiros, empurrou outro e quase derrubou uma senhora. Foi agredido. Apanhou e foi jogado na estação, assim que o trem parou. Levantou-se e procurou a saída.
- Que dia meu Deus! Nem terminou a frase, foi abordado por dois drogados, que lhe pediram dinheiro.
- Não tenho. Vão procurar outro ou quem sabe um emprego? Frase infeliz. Foi o suficiente. Outra confusão. Correu e outros drogados o perseguiram, pois os dois primeiros disseram que ele havia prometido droga, pegou e dinheiro e não deu a mercadoria. De novo teve de correr muito. Já não aguentava mais. Foi salvo por um segurança de uma empresa que o deixou entrar no prédio. Mal sabia ele.
- Muito obrigado amigo. Acho que estou vivendo o pior dia de minha vida. Posso ir ao banheiro?
- Final do corredor. Não demore que o meu turno está quase terminando.
Josias teve uma vertigem e desmaiou. O segurança recebeu um telefonema de casa: filho doente. Deixou um colega em seu lugar, esquecendo do azarado Josias.
Nosso infeliz personagem foi encontrado desmaiado e ficou sob a suspeita de estar ali para assaltar o lugar.
- Vamos chamar a polícia. Ninguém conhece o sujeito.
- Ele está machucado, disse Marilda, a moça do café. Eu acho que conheço ele. Veio me ver.
Marilda estava mentindo, mas teve dó do desamparo do rapaz.
- Levo ele até o Pronto Socorro. Já estou indo para casa. Não custa nada...
Os responsáveis pela empresa não acreditaram muito na história da moça, mas acharam que esta solução era a melhor. Não queriam o nome da instituição no noticiário policial.
Houve o atendimento no P.S. e ambos foram para casa da moça.
- Faço rapidinho um almoço para nós. Já são mais de duas horas da tarde.
Josias dormiu, almoçou e teve o corpo de Marilda como sobremesa.
Alguém abriu o portão da humilde casa. Marilda estremeceu. Era o marido que chegara antes da hora.
- Suma daqui, meu marido chegou.
O rapaz pegou as roupas e fugiu pelos fundos da casa. Pulando o muro. Colocou o restante das roupas já na rua, observado por uma velhinha que cuidava do jardim e por algumas câmeras de segurança.
“Estou sem dinheiro”, pensou, vou ao banco. Dirigiu-se a um dos caixas eletrônicos. Sacou uma pequena quantia e já ia saindo do banco, quando ouviu uma gritaria e viu gente correndo. Era um assalto. Voltou instintivamente para o interior do banco. Tornou-se refém dos ladrões.
Negociações entre a polícia e os assaltantes . Resolveram render-se.
- Troque de camisa comigo, disse um dos envolvidos no assalto. Josias assim o fez. O homem que trocara de camisa com Josias saiu junto com os reféns.
Ao sair nosso infeliz herói foi recebido aos gritos pelos policiais que cercavam o banco. Teve sua última decisão desastrada: sacou a carteira para se identificar. Tomou dois tiros no peito e morreu a caminho do hospital.
Noticiário local: “um homem suspeito de várias ações, foi morto esta tarde na Capital. Josias da Silva foi flagrado por câmeras de segurança em uma estação de trens participando de depredações e agredindo um segurança. Em seguida no Metrô onde foi expulso de um dos vagões por tentar molestar uma passageira. Novas imagens mostram o homem passando pela cracolândia envolvido em nova confusão. Invadiu uma empresa no Centro e sequestrou uma funcionária, obrigando-a a ir com ele ao P.S. e posteriormente para sua casa. Parece que houve estupro. Uma testemunha afirma que viu o rapaz pulando o muro de uma das casas. Por fim participou de um fracassado assalto a um banco, onde foi morto pela polícia, após um suposto enfrentamento. Os policiais disseram que ele estava armado”.