O Cientista
Depois de quinze anos, finamente a pesquisa avançara. Tudo convergia para aquele momento... e o que poderia advir daqueles papéis que Gregor, cansado, mas feliz, trazia debaixo do braço enquanto saía do laboratório já quase à madrugada? O avanço era tão assombroso, os resultados tão relevantes, que não seria impossível ter ali, naquela pasta de couro, as sementes que fariam florescer uma nova era para a humanidade, a cura para o câncer e mudanças de paradigmas que nos petrificaram por séculos sob as trevas da ignorância.
Em sua absorção, tentando vislumbrar todas as ramificações de sua descoberta, Gregor sequer percebia o passar do tempo no curto trajeto que fazia a pé enquanto chegava em casa; mas, se por um lado não se apercebia do passar do tempo, tampouco estava consciente das vielas escuras que o cercavam pelo caminho ermo.
Da escuridão saltou um homem trêmulo, de barbas ruivas, olhos grandes e frenéticos, que segurava uma arma:
- A Grana! Me passa a grana! - gritou sacudindo o cano como quem aponta um dedo.
Gregor levou alguns segundos para retornar à Terra e entender o que ocorria.
- A grana! - bradou o homem num misto de desespero e raiva.
Com tranquilidade, Gregor deu-lhe tudo o que tinha: a única nota de $ 50 que trazia no bolso.
O homem agarrou a nota sofregamente, como quem reencontra a esperança por breve momento, a respiração acelerada reduziu-se um pouco, a boca seca mordeu os lábios rachados, mas os olhos em frenesi não pararam:
- A bolsa!
Gregor teve um sobressalto. Para ele perder aquela pasta de couro era como perder-se inteiro; ali jazia todo o seu sentido, seu esforço, seu trabalho e sua vida e abraçou-se a ela como quem se abraça ao filho querido.
- A bolsa! - repetiu o homem, tentando tomá-la dos braços de Gregor, mas, sem perder tempo ou argumentos, disparando a arma.
Imediatamente Gregor sentiu toda a energia cinética do disparo percorrendo-lhe o peito como um soco, drenando-lhe as forças, e os braços, que não queriam soltar a pasta de couro, deixaram-se cair vencidos.
Ao tombar, Gregor ainda se permitiu ver, sumindo nas trevas, o homem que corria desengonçadamente, de certo sem saber o tesouro que carregava na pasta de couro. Depois disso, olhou para o céu: era uma noite morna, ironicamente bela e parecia alheia ao fato de que ali, esvaindo-se, Gregor morria.
Sem deixar de olhar para o céu, não escapou ao cientista a sarcástica constatação de que, talvez, tudo seja simplesmente para nada.