Todo mundo Tem seu Par
Aquele sujeito, embora, bonito e dotado de uma primorosa educação não conseguia que nenhuma moça, mesmo que não fosse bela, por se enamorasse.
Não será demasiado esclarecer que esse fato, por anos a fio prolongados, suscitasse comentários das senhoras, todas elas, temidas a Deus e cumpridoras das exéquias ditadas pelo padre, tão logo soubessem que alguém das redondezas partira para o encontro celestial. Assim, e por muito tempo, a bem da verdade, desde seus antepassados, aquelas senhoras, tementes a Deus, lançavam-se à tenebrosa mania de maldizer dos outros. Juravam, evocando o nome do todo-poderoso, que não faziam por mal, mas para alertar outras famílias que aquele rapaz, embora, aparentasse, ser de boa família, nunca fora visto com uma moçoila.
O pobre moçoilo, desiludido com a vida, não saia mais. Passava horas a fio trancado em seus aposentos, ora lendo, ora olhando para o teto. Havia momentos que se deixava levar em pensamentos perdidos, e havia outras ocasiões em que largava-se sobre a cama e observava um mosquito desfilando com seu zumbido. Nem isso o incomodava; na verdade, chegou a conjecturar, para si, que nesse item, era o único ser humano que se sentia amigo de um mosquito.
Que ela era educado, todos concordavam. Que era bonito, aceitação unânime. Não era rico, mas, trabalhava numa exportadora do seu pai, de modo que seu soldo dava para sustentar uma família sem grandes percalços.
Mas, o pobre moço continuava só.
Tinha um forte talento para escrever, tanto que não havia ninguém que pudesse afirmar te-lo visto falando algum dia. Sabiam que não era mudo, afinal, das poucos vezes que alguém teria ouvido sua voz, fora só na forma de sussurros. Mas sua escrita era de uma clareza de lhe atrair admiração, tanto de moças quanto de rapazes. Mas o moço continuava só.
Certo dia, sem que se desse conta, estava ele trafegando pela alameda dos doces. Ele gostava muito de doces. Resolveu entrar. Parou. Olhou a vitrine. Observava cada doce como se fosse um diamante: seus olhos brilhavam.
Decidiu por um bombocado de chocolate. Dirigiu-se à atendente. Parou.
A atendente, que já o observava desde quando estava na calçada, foi a seu encontro. Parou.
Ambos se olharam, niguém disse nada. Aquela situação, que não poderia continuar daquele jeito, exigia um desfecho, fosse qual fosse, mas, não poderia ficar como estava.
Sem que desse conta, a moça lhe entega um bilhete. Ele abre e lê que ali estava escrito: o que deseja?
Ele, por seu turno, e para não parecer deselegante, toma de um pedaço de papel, na verdade, de uma folha de um bloco, também lhe entega um bilhete.
Ela, depois de ler o que estava escrito e agradecer, por escrito, pela preferência, lhe entega outro bilhete. Ali ele fica sabendo que aquela linda moça sofre de afasia, assim como ele.
O tempo passou. O mosquito sumiu. E o quarto, que noutros tempos, era seu único refúgio, agora vibra com a algazarra que ele faz com seus 3 filhos.