05 - THALES

São Paulo, SP

Acordei bem mais cedo que o necessário no dia que começaria em meu novo cargo. Levantei da cama, escovei meus dentes, deixei pronto o terno que usaria e fui pra cozinha preparar meu café, embora o frio na barriga, que me assombrava desde a noite anterior, não ajudasse muito na digestão.

Subi pra academia pra tentar conter o meu nervosismo. E mesmo correndo na esteira com o fone no volume máximo, a minha cabeça continuava voltando para o que iria acontecer em algumas horas, como seria a minha recepção na empresa, se a diretoria e os funcionários me veriam com otimismo, ou seriam céticos quanto à contratação de alguém de fora da empresa.

Tomei um banho, me vesti, e saí em direção à empresa. O clima quente daquela manhã era um contraste ao final de semana frio que tive, mas sabia que essas mudanças bruscas de temperatura eram comuns em São Paulo.

Cheguei ao prédio e logo vi Arthur me esperando na entrada com outro homem, cujos cabelos brancos entregavam que ele beirava os cinquenta anos, um óculos de armação grande e um terno azul marinho cobrindo um corpo bem acima do peso. Arthur o apresentou para mim.

– Bom dia, Dom. Esse é o Sr. Thales de Albuquerque, ele é o nosso diretor geral e estava atuando como Vice-presidente interino até a sua chegada.

A expressão de desgosto no rosto de Thales, a hora que Arthur falou a palavra ‘‘Interino’’, não poderia ser mais transparente. Embora percebesse ali que provavelmente teria um pouco de resistência com Thales, me apresentei e estendi a mão pra ele.

– É um prazer conhecê-lo, Dom. Estávamos ansiosos por sua chegada. – Disse Thales de maneira fria, apertando firmemente a minha mão.

Passamos pela portaria e subimos direto para a minha sala. A empresa ocupava os três andares mais altos do prédio, sendo a minha sala no ultimo andar. Arthur ficava tentando puxar alguns assuntos pra tentar quebrar o gelo, mas a tensão que pairava no ar impedia as conversas de fluírem naturalmente.

Ao sairmos do elevador e andarmos pelo andar, pude ver aquela imensidão de pessoas ficando em silencio e virando as cabeças para dar uma olhada na pessoa que seria o novo vice-presidente. Pude ver alguns sorrisos tímidos, algumas pessoas com expressões pouco impressionadas, e uma grande maioria com uma curiosidade, facilmente identificada pelo olhar.

– Dom, fique a vontade e em vinte minutos temos uma reunião com o CEO, seguida de reuniões com os gestores de cada área. – Informou Thales, ao chegarmos à porta de minha sala.

A sala era espaçosa, tinha uma grande mesa de madeira e uma cadeira de couro, que ficava de costas para uma enorme janela, com vista privilegiada para a Av. Paulista. Ainda contava com um banheiro privativo, frigobar e um jogo de sofá e duas poltronas, colocados ali para encontros e reuniões mais casuais. Instalei-me na sala e fiquei aguardando as minhas reuniões do dia.

Dom Ricceli
Enviado por Dom Ricceli em 26/03/2015
Reeditado em 04/09/2015
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