O Silencio
 
     O homem marcado pelo tempo trabalha a terra fofa em sua lida diária, preparando-a para receber o quinhão de um tanto da espécie Lactuca sativa, prontas para serem transplantadas. Toma um punhado da terra fofa em suas mãos e começa a tocá-la, como se estivesse sentido o teor de seu NPK orgânico, sim ele prefere o orgânico, não que aquele outro de procedência química, não seja assim tão bom, mas ele prefere o orgânico...
          Então chega o neto com a matula a tiracolo e aos pés da frondosa laranjeira, saboreiam a farofa de carne seca e cheiro verde, entremeada com arroz socado no pilão.
          Ele coloca a mão no queixo, pensativo fixa o olhar na terra trabalhada e em seguida no horizonte matinal. O neto pergunta:
          - O que foi vovô?
          - Não foi nada meu filho, tô apenas ouvindo a voz do silêncio...
          - O silêncio fala? O silêncio tem voz?
          - Se você souber ouvir, tem sim...
          Paira então entre eles, um lindo colibri e com movimentos ascendentes de suas asas, capta o néctar das flores da laranjeira, mantendo-se sincronicamente imóvel na presença dos dois observadores fascinados e após alguns segundos ele se vai...
          O menino com voz pausada diz:
          - Vovô eu ouvi a voz do silêncio!
          Cai uma chuva fina e mansa, como se fosse o véu do silêncio a cobri-los com o som profundo da precipitação sussurrante...



 
Hélio Ribeiro de Almeida
Enviado por Hélio Ribeiro de Almeida em 26/03/2015
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T5183480
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