EFEITO COLATERAL

Relato de uma participante de reality show a um programa de TV de muita audiência:

Foi uma besteira, uma loucura o que fiz! Por pouco não aconteceu uma tragédia. Não sei o que passou pela minha cabeça, mas deixa pra lá, afinal de contas tudo já passou, mas o susto foi daqueles! Sabe aquele vestido que a gente simplesmente ama, mas não dá pra usar por estarmos, digamos, com uns quilinhos a mais? Pois é, esse foi o meu mal. Não falo do vestido, mas do fato de querer caber dentro dele. Tudo começou naquela festa. Que ódio! Eu estava muito p... naquela noite. A festa bombando e eu azeda, me sentindo uma baleia, querendo sumir daquele lugar. Eu me achava a mais esquisita da festa e parecia que todos estavam olhando pra mim espantados pelo fato de eu estar com uma roupa horrorosa, já que as bonitas não me serviam mais. Justo eu que tinha um corpo bonito! Eu não conseguia parar de observar as outras meninas. Todas exibiam seus corpinhos em forma. Que inveja! Antes que eu ficasse pior do que já estava, resolvi ir embora. Minha amiga não entendia nada, mas eu queria ir embora de qualquer jeito. Fui ao banheiro, parecia ser de propósito mas lá dentro havia duas meninas que conversavam justamente sobre remédios para emagrecer. Uma delas falava que tomou um remédio muito bom e que em cinco dias perdera quatro quilos. Era tudo o que eu precisava ouvir naquela noite; peguei meu celular e gravei o nome do remédio. De tão alegre que fiquei resolvi continuar na festa. O ambiente melhorou, parecia que as pessoas me olhavam como a mais poderosa do local. Enfim, pude curtir a festa. No dia seguinte, eu fui até a farmácia para saber quanto custava o tal remédio e levei um susto, pois o preço era bem salgado. Porém, eu tinha parte da grana e o restante eu pedi emprestado a um amigo. É claro que não falei pra ele e nem pra ninguém sobre o remédio. Voltei à farmácia e o cara me pediu a receita médica dizendo que não poderia me vender o remédio sem ela. Eu insisti para que ele me vendesse assim mesmo mas não deu certo, tive que falsificar uma receita, só assim consegui o remédio. Eu nem quis saber de ler a bula, contra-indicações, nem nada... só queria voltar ao meu corpinho de sempre e vestir as roupas que eu gostava. Resolvi tomar 1 comprimido por dia. No primeiro dia eu continuei do mesmo jeito, no segundo também, mas no terceiro eu comecei a vomitar, vomitar muuuuito! Como se não bastasse, fiquei com uma bruta diarreia também, entretanto, o pior ainda estava por vir. Desidratada, fui internada com um sério problema intestinal. Foi o efeito colateral do remédio... só sei que me ferrei. Manchas escuras começaram a se espalhar pelo meu corpo. Aquela porcaria que eu tomei ainda me fez dormir o tempo todo, eu cheguei a ter alucinações! Via passarinhos coloridos voando e tirando selfies. Achei que eu ia morrer. Fiquei assim por uns 2 dias, terrível! Quando me dei por conta vi que estava ma-gér-ri-ma, desnutrida e vomitava o pouco que conseguia comer. Eu só não chorava enquanto dormia. Minha mãe me consolava e me fazia acreditar que eu não estava irreconhecível. Nem sei por quanto tempo eu fiquei internada, mas depois que saí do hospital começou outra tortura: eu só podia tomar sopa sem sal (Argh!) e remédios horríveis para curar o problema causado por aquele remédio que eu não gosto nem de me lembrar. E eu lá, esquelética, deitada na cama. Não podia ficar em pé, pois parecia que meus ossos iriam quebrar. Tive que usar uma sonda, porque não havia como eu ir no banheiro fazer minhas necessidades fisiológicas. Minha mãe tinha que me dar banho. Ela tinha que me carregar no colo. Como eu chorava! Meus amigos iam me visitar e ficavam lá na beira da cama, chorando comigo. Eles faziam uma cara de dor e aflição, isso fazia com que eu chorasse ainda mais. Nós só começávamos a sorrir quando minha mãe entrava no quarto fazendo brincadeiras para descontrair-nos. Demorei uns 2 meses para me recuperar, aos poucos fui ganhando peso e as manchas escuras pelo meu corpo foram desaparecendo. Já conseguia ficar de pé e não me sentia tão fraca. Não precisei mais usar a sonda e pude tomar banho sozinha, sem a ajuda da minha mãe. À medida que eu melhorava, vinha mais uma tortura: meus pais falando 24 horas na minha cabeça, me repreendendo... Que saco! A besteira já estava feita! A todo momento eles diziam que eu aprendi a lição. Que lição, que nada! Eu não farei mais isso e pronto, chega! Não precisavam falar mais nada. Hoje eu estou com o meu peso normal, me alimentando bem, na hora certa e sem exageros. Tenho que comer massas, carboidratos e ainda preciso tomar muita água e comer muita fruta. Meu organismo passou a funcionar muito bem sem nenhuma sequela e continuo fazendo tudo o que eu gosto, vivendo normalmente. Ah, e antes que eu me esqueça: já posso usar meu vestido predileto sem problemas!

Alveres
Enviado por Alveres em 13/03/2015
Código do texto: T5168047
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