Elaine, no banco traseiro do automóvel, parecia feliz na companhia de seus amigos, Jairo e Lurdes, enquanto viajavam, os três, para um fim de semana na chácara do casal. A viagem era longa e durante o percurso conversaram sobre vários assuntos e elas riam das piadas de Jairo, sempre bem humorado e feliz com a vida.
O casal havia convidado a amiga para um fim de semana na chácara porque sentiu que ela precisava de ar para respirar, em outras palavras, precisava desabafar, tamanha era a sua ansiedade de compartilhar seus problemas com alguém em quem confiasse e ninguém melhor do que Jairo e Lurdes para ajudá-la nesse sentido. Eles estavam apenas esperando que ela se sentisse confortável para se abrir e respeitaram o seu tempo.
Em dado momento, Elaine começou a falar, na verdade ela divagava nas lembranças do que foi sua vida com Raul. Jairo e Lurdes ouviam atentamente a história de Elaine e ela falava como se fosse para si mesma, buscando encontrar em algum lugar perdido nos vinte anos de união, o motivo que desencadeou as crises no casamento. Elaine viajou no tempo, levando com ela os amigos como que testemunhas da sua aparente perda.
Elaine já vinha de um primeiro casamento frustrado, com quem teve, com o primeiro marido, um filho. Sua vida nunca fora fácil. Após a separação, dedicou-se inteiramente à criação do filho, sempre trabalhando para o sustento da casa. Quase não tinha tempo para ela, não tinha vida social e vivia praticamente para o trabalho e para a casa. Foi no trabalho que conheceu Eduardo e depois de muita insistência deste e conselhos das amigas do setor, resolveu aceitar o convite para jantar com ele e conhecê-lo melhor. Estava carente, fragilizada e não demorou muito para se apaixonar por aquele homem romântico, sedutor e outras tantas qualidades que só veem os olhos apaixonados.
O convívio era bom, tranquilo e Elaine, cada dia mais apaixonada, não ofereceu resistência quando Eduardo confessou que era casado. Verdade ou não, este justificou-se dizendo que o relacionamento em casa não era satisfatório, que o casal mantinha um relacionamento de aparência por uma questão financeira e por causa dos filhos, por fim, alguns anos se passaram sem que a situação tomasse outro rumo. Tudo ia relativamente bem até que a esposa dele sofreu um acidente fatal de carro e, então, tudo mudou...para pior. Eduardo, em crise de consciência e sentimento de culpa terminou o relacionamento com Elaine e a partir daí nunca mais se viram.
Elaine seguiu sua vida, triste, se sentindo abandonada, frustrada e desiludida com os homens. Nada fazia com que a vida lhe devolvesse o viço, a beleza e o sorriso fácil.
Sempre preocupada com Elaine, sua irmã, Neide, certo dia apareceu na sua casa com um jornal, mais precisamente na seção de Correio Sentimental e depois de muita insistência conseguiu com que Elaine fizesse contato com um dos selecionados por ela. Era Raul, um moço bonito, simpático, divorciado, enfim, o número dela, dizia, principalmente porque morava em Portugal, país que ela tinha muita vontade de conhecer, sem contar que não teria muito problema com a língua.
Foram oito meses de cartas, depois vieram os telefonemas e, enfim, uma passagem para que ela fosse conhecê-lo pessoalmente. Elaine estava insegura ao tomar a decisão de viajar porque sabia que se aceitasse mudaria radicalmente a sua vida. Então, acordaram que seria, a princípio, uma viagem a passeio e lá se foi Elaine ao encontro do seu possível futuro marido.
Elaine atravessou o oceano com o coração apertado, ainda insegura diante do desconhecido, mas, no fundo, feliz por estar, pelo menos, buscando novas oportunidades e novos horizontes.
Lá estava Raul, à sua espera no aeroporto, de braços e coração abertos para receber Elaine que tremia dos pés à cabeça, tamanha a sua emoção.
Foram dois meses de felicidade total, passeios maravilhosos, uma vida a qual ela se adaptou perfeitamente em pouco tempo. Decidiram, então, que ela voltaria para casa para acertar os detalhes da sua mudança definitiva para Portugal. E assim, nossa amiga Elaine viajou por “mares nunca dantes navegados” e foi feliz por longos vinte anos de casamento, onde construiu, com o marido Raul, uma vida de muito trabalho, esforço e também de sucesso. Morava agora no Algarve, onde abriram uma empresa de pequeno porte, mas com futuro promissor, e não passava pela sua cabeça a possibilidade de um dia ter que deixá-lo. Mas a vida resolveu aplicar um novo teste em Elaine e, com a séria crise econômica que quebrou o país, infelizmente, seus recursos financeiros não foram suficientes para manter a empresa e eles tiveram que encerrar as atividades. Foi outro golpe duro para Elaine que já havia conquistado quase tudo com que tinha sonhado. O sonho acabou e, de pés no chão, Elaine retornou à sua terra natal, com o marido.
Aí vieram as crises, crise financeira, convivência familiar, desemprego, choques de cultura, readaptação, de relacionamento, enfim, desencadeou uma cascata de acontecimentos que fez com que o casal se desestruturasse e a separação, agora, parecia inevitável.
Elaine chorou em seu desabafo e Jairo, condoído, aconselhou-a a aproveitar o fim de semana para refletir sobre o que ela queria para sua vida e tomar a iniciativa de reaproximação do marido, levando em consideração que as duas partes tiveram erros mas que eram passíveis de ser consertados. Elaine ouviu atentamente a sugestão de Jairo que se resumia em “começar tudo outra vez, da mesma forma como foi o primeiro dia em que pisou em terra portuguesa”.
Fez-se um longo silêncio e quando Jairo e Lurdes olharam para Elaine ela estava sorrindo, com um brilho de esperança no olhar, e isso foi muito gratificante para o casal de amigos que se ofereceu em comprar uma garrafa do melhor vinho português e presentear Elaine e Raul para comemorarem a reconciliação deles, assim que os três retornassem da chácara.
Elaine queria fazer uma nova tentativa, queria voltar no tempo, no tempo em que o romantismo do primeiro encontro selou a sua união. A vida estava dando-lhe outra oportunidade, talvez a última, mas, se dependesse dela seria a definitiva. Elaine já sonhava com a possibilidade da sua volta para o seu querido Algarve...
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