Fotografia
Lá estava bem em cima da mesa do escritório aquela fotografia. Aquela onde estávamos os dois, juntinhos, num momento feliz.
- Ah, bons momentos aqueles – pensei solitária.
Toquei a foto e estremeci ao fazê-lo. Era a consciência de que eu o tinha perdido para sempre. Bastava olhar aqueles rostos, para ver que havia o passado ali presente. A alegria que outrora nos brindava, feito chama se desfizera em cinzas, quando tão rapidamente não mais se via brilho naqueles olhares. Nada além de um frio conformismo.
Como estava sendo triste ver aquele filme imaginário passar, sabendo que nada foi como deveria ter sido. Olhei a janela e o vi acenar, quando não havia nada, apenas miragens. Não entendia o desfecho das coisas.
- Porque eu o deixei partir assim... Por quê? – Martirizava-me.
Agora era tarde para lamentar. Já estava consumado, e só restava esperar os ponteiros do relógio correrem ou um novo amor aparecer, quem sabe! Não, aquilo, definitivamente, não era o fim do mundo, mas por que olhar aquela foto era a pior parte? Imediatamente decidi: “vou jogar fora!” Onde estava a coragem? E o que eu deveria fazer então? Continuar sentindo-me vulnerável ao ver aquela imagem? Continuar morrendo um pouco cada vez mais? Não, estes nunca foram meus planos de fato. Minha vida tornara-se um carro que não soube conduzir. Andava desgovernado e eu estava alheia aos seus mecanismos de controle.
Esperei, depois agi. Mudei os planos. Mudei o cabelo. Mudei a rotina. Mudei o pensamento. Mudei os retratos. Mudei os protagonistas da historia. Aprendi a dirigir. Quem sabe não dá certo! Nem parece que um dia eu pensei tão tristemente naquele momento em que bastava mirar aquela velha fotografia, que está agora reside numa moldura pendurada na parede, me causava nostalgia. Rio apenas. Quão boba pude ser! Na aflição, esqueci-me do óbvio: o tempo conforma e a vontade de mudar cura até as cicatrizes mais resistentes.