O inesperado
Foi num feriado, desses tão comuns que não nos lembramos nem a data, que o inesperado surgiu.
Com suas vestes rotas, um cabelo desajeitado, fugido do pente, mas
com voz cheia de frases diferentes e sotaque indecifrável.
- Ele realmente não podia ser deste planeta. Que figura!
Com olhar perdido, mas atento, entre tantas pernas e braços do metrô. Não deu outra.
E cai no chão pela força daquele esbarrão.
E não é que realmente ele parecia não existir?
Levantou-me do chão, só com uma de suas mãos. E dai pra frente só me surpreendia a cada palavra ou gesto seu.
Contou-me de onde vinha: Um lugar calmo, claro. Onde as pessoas quase não falavam, sussurravam.
Lá era tranquilo demais, por isso resolveu se aventurar nessa panela de pressão de cidade grande e louca, como a nossa. Por ser inebriante,
passou a tarde ligeira, como num relâmpago.
Trocamos celulares e pistas de encontros futuros.
Até que à noite, num programa de noticiários de TV, ouço o apelo de seus familiares alegando que aquele belo e perfeito garoto (e mostravam a sua foto), fugira de uma clínica de loucos.
É..., pensei: Eu devia estar louca, mesmo, para acreditar que tudo aquilo realmente poderia ser verdade.
Assim, fui dormir decepcionada.