Amor gay?
- Eu posso falar contigo?
Aquele rapaz tímido, de poucas palavras, mas de olhar inquieto queria falar comigo. Naquela época, adolescente, eu estava começando a descobrir que, enfim, não era tão patinho feio assim e, de fato, tinha uma que outra guria que gostava de mim ou, que pelo menos, manifestava algum interesse em mim. Poucos dias antes, tinha trocado uns beijos com uma loirissima. Teve também uma morena de verdes olhos com quem passeei de mãos dadas e que eu estava começando a namorar. Tinha uma outra que me desenhava corações nos meus cadernos, durante a hora do recreio. Voltava para a sala e lá estava aquele coração transpassado pela flecha do cupido. Tava me achando “o cara”. Isso sem contar que há poucos dias tinha recebido uma declaração de um apaixonado coração que dizia ter sonhado comigo. Manifesto em dizer que tal coração era do mesmo sexo que eu. Portanto, para mim, seria inviável qualquer recíproca. Mas, de todo modo, procurei ser elegante, não magoar aquele amigo. Sua opção por jogar noutro time era sua. Bem, voltando ao assunto do início. Aquele rapaz tímido, de poucas palavras, mas de olhar inquieto queria falar comigo.
- Tudo bem, vamos conversar...
- Mas, vamos conversar longe das gurias.
Fiquei um tanto encucado. Porque ele queria conversar longe dos outros? Putzgrila. Comecei a sacar. Era o segundo gay que se apaixonava por mim. Mas, tudo bem, vamos ouvir o que o guri tem a dizer, falar que compreendo os seus sentimentos, que me sentia lisonjeado por isso, mas para mim, seria impossível retribuir. Eu gostava das meninas, aquelas moças de cabelos compridos, gostava de sua feminilidade, enfim. Sinceramente, depois de aconselhar o rapaz, iria repensar meu modo de me vestir ou quem sabe, fosse o perfume que eu usava. Alguma coisa podia estar errada. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas se cair uma segunda vez, certamente cairá uma terceira. Portanto, não queria despertar paixões nos homens. E, sim, nas mulheres. Pronto. Estávamos afastados das gurias. Estava preparado para ouvir a declaração do rapaz, procurando ser compreensivo, sem eu ficar constrangido e sem magoá-lo. Iria encarar isso naturalmente.
- Pó falar.
- Sabe o que é...
- Sei, sim. Pode falar.
- Olha, não vai estranhar o que eu vou dizer...
- Capaz, cara. Perfeitamente normal. Não estranho nada.
- Ta bom. É que eu to apaixonado, entende.
Nesse momento, admirado de sua coragem, levei a mão no seu ombro, procurando dar um sinal de compreensão (e que ele desembuchasse de uma vez).
- Entendo. A paixão acontece. Ninguém manda no coração e....
Ele me cortou.
- To apaixonado pela irmã da tua namorada. Pode falar com ela para mim??
Por essa, eu não esperava. Me aliviei em saber (mas com um pinguinho de decepção). No entanto, me vi invadido de um pensamento: eu não estava com essa bola toda.